Nem sei bem quando o assunto me caiu aos ouvidos. Menina do interior, de uma cidade acostumada com crimes de pistolagem, as lendas urbanas eram outras, muitas bem reais. Sei que um dia, bem na época maluca de decidir quais seriam nossos temas de TCC no curso de Jornalismo, o Talles Rodrigues me apareceu com a ideia de rememorar a história do Cortabundas no projeto final dele.
Investigar jornalisticamente a história de um maníaco que atacou mulheres no José Walter nos anos 80 e ainda contar tudo em forma de quadrinhos. Tive medo pela dificuldade e o trabalho que ele ia enfrentar, mas fiquei completamente fascinada com a ideia.
Confesso que fiquei até com certa invejinha, tanto que na primeira oportunidade me meti e fui com ele fazer umas entrevistas, para o que mais tarde viria a ser o “Pânico no José Walter – O maníaco que seviciava mulheres”.
Daí que ele entrevistou 19 pessoas – jornalistas-policiais que noticiaram quase exaustivamente o caso, policiais da época, psicólogos, historiadores, moradores do bairro, um vizinho do Francisco Evandro (o maníaco que foi preso e confessou os crimes) e vítimas do Cortabundas – e transformou todo o percurso da reportagem no primeiro livro-reportagem em quadrinhos defendido no curso de Jornalismo da UFC (dá um orgulho danado dizer isso!).
Com 10 capítulos, prefácio escrito pelo professor Ricardo Jorge e extras, o livro tem 196 páginas e um projeto gráfico sombrio e oitentista.
Daí que ele e o Márcio Moreira fizeram um campanha de financiamento coletivo no Catarse e conseguiram R$6 mil para financiar a publicação com tiragem de 500 exemplares. Os 156 livros dos colaboradores do projeto já foram encaminhados para suas casas e agora, Talles lançou a HQ (R$ 20, precinho supimpa) numa festinha joiada hoje (3), no Mambembe – Comida e Outras Artes, com bastante música oitentosa, típica das tértulias da época.
E aí não é que no mesmo corta-horário e no mesmo corta-local teve o lançamento da Ajunto, a nova estamparia bacanuda da cidade, que não por acaso é do Rafael Salvador, meu namorado (ALERTA PUBLIPOST: ele me paga com beijinhos), e das queridas Mônica Pio e Monique Dieb.
Eles tiveram o cuidado de partir do zero e fizeram as blusas desde a escolha do tecido, passando pela modelagem, criação de estampas exclusivas e impressão de qualidade.
O Mambembe hoje (mais ainda que nos outros dias) foi só amor!
Para quem quiser saber mais sobre o Cortabundas, me permitam copiar um trecho do release de lançamento (fui eu quem escreveu mesmo, então não tem problema né? hehe)
“A história por trás da lenda
Cortabundas, Cortanádegas, Negão, navalhada e maníaco do estilete eram algumas das alcunhas as quais se referiam jornais e populares sobre o homem que, entre 1985 e 1987, adentrava sorrateiramente casas e retalhava com cortes de navalha, estilete, ou bisturi (não se sabe ao certo) traseiros femininos. Os ataques amedrontavam a Cidade inteira, informada das ocorrências pelas matérias quase semanais em jornais locais, mas as vítimas estavam concentradas principalmente no bairro Prefeito José Walter, a época um conjunto habitacional.
Por três anos, mais de 30 ataques foram feitos a mulheres de todas as idades, de crianças a idosas, até a prisão de um suspeito reconhecido por parte das vitimas. A história se espalhou e, talvez pelo distanciamento do tempo ou o absurdo dos fatos, virou lenda. Talles Rodrigues nasceu um ano após a prisão de Francisco Evandro, que pôs fim aos ataques, e cresceu no José Walter ouvindo histórias sobre o maníaco. Os relatos que habitaram sua infância viraram objeto de pesquisa e, como fruto do trabalho de conclusão de curso, o artista visual e agora jornalista escreveu e ilustrou o livro-reportagem em quadrinhos “Pânico no José Walter – o maníaco que seviciava mulheres”.
Baseado em métodos de jornalismo em quadrinhos do jornalista e artista em quadrinhos Joe Sacco (autor de “Palestina” e “Área de Segurança: Gorazde”), Talles partiu de matérias de jornais e entrevistou moradores do bairro, policiais que trabalharam no caso, psicólogos, jornalistas que escreveram na época, mulheres vitimas do maníaco, familiares das mulheres e até mesmo um vizinho do maníaco.”
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