Meu relato de parto normal e humanizado: a chegada da Elisa

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Fortaleza, 1º de maio. Iniciamos, oficialmente, a Semana da Ocitocina. Com bom humor e leveza, eu e o Igor nomeamos assim a semana de preparação para o nosso parto. Tínhamos acabado de concluir a 38ª semana e seguíamos rumo às 39, prazo para a Elisa nascer sem maiores riscos devido ao meu quadro de diabetes gestacional. “Se ela não nascer com as 39 completas, iniciaremos o processo de indução no hospital mesmo, tá?”, combinou a obstetra Rebeca Matos com a gente.

E, como eu não dispenso um desafio, a semana foi toda levada com leveza, mas ao mesmo tempo com um objetivo: estimular a chegada da Elisa. 

O último banho de mar com a Elisa na barriga

Teve banho de mar, teve fotos na praia, teve comidas gostosas ao longo da semana, encontros com pessoas queridas e muito, muito trabalho: fisioterapia pélvica, pilates, acupuntura, namoro, chás, escalda-pés, massagens, risadas… tudo para liberar a tal da ocitocina. Mas, afinal, o que é esse hormônio?

A Wikipedia explica resumidamente o que é: “Ocitocina ou oxitocina é um hormônio produzido pelo hipotálamo e armazenado na hipófise posterior (neuro-hipófise) tendo como função promover as contrações musculares uterinas; reduzir o sangramento durante o parto; estimular a liberação do leite materno; desenvolver apego e empatia entre pessoas; produzir parte do prazer do orgasmo; e modular a sensibilidade ao medo (do desconhecido)”. Resumindo: no momento, precisava de ocitocina para ajudar na indução do parto! 

5 de maio de 2022 – quinta-feira

Depois de uma semana agitada, a quinta-feira encerrou tranquila. Fui dormir após um escalda-pés maravilhoso e um chá impressionantemente saboroso que a doula passou (quem diria que a combinação chocolate 70% + canela + pimenta + um bocado de coisa ficaria gostoso?). A semana foi de sonos tranquilos, mas a madrugada prometia.

6 de maio de 2022 – sexta-feira

Acordei por volta das 3h da manhã com dores constantes. Eu já tinha sentido umas contrações antes, mas nada ritmado. Porém, percebi uma certa frequência, baixei o app “contrações na gravidez” e passei a cronometrar. Minutos depois, segundo o aplicativo, eu precisava correr para o hospital. Levantei, terminei de arrumar as coisas (coloquei mais alguns itens na mala e adicionei os de higiene pessoal) e acordei o Igor na maior calma do mundo. Expliquei o que estava acontecendo, fizemos um lanche, mas as contrações não evoluíram. Entrei em contato com a médica, que estava de plantão e nos deu a escolha de já ir pro hospital ou de esperar um pouco mais pra consulta que já tínhamos marcado, às 7h30. Optamos pela segunda alternativa e voltamos a dormir.

Quando acordamos, pensamos que poderia ser útil já deixar as coisas no carro. O consultório da obstetra é colado na maternidade (Gastroclinica) e, se fosse o caso, já pouparíamos uma viagem. 

Should I stay or should I go?

Chegando na consulta, a notícia: 4 centímetros de dilatação! Mais duas opções: voltar pra casa e esperar dilatar mais ou já internar. Igor, mais ansioso do que eu, achou que seria interessante já nos acomodarmos no hospital e não precisar vivenciar aquelas cenas de filme desesperadoras, de ter que sair correndo no trânsito enquanto a criança já coroa. Concordei e, ainda na manhã de sexta-feira, já estávamos no quarto do hospital. O coração tava acelerado, mas eu estava impressionantemente calma.

Logo depois que nos acomodamos, a Yasmin, doula parceira da Isabelle, chegou para nos acolher. Yasmin é leve, divertida e bastante proativa. Conhece o hospital como a palma da mão e logo foi desenrolando pequenas pendências e, ao mesmo tempo, decorou o quarto para torná-lo ainda mais aconchegante. A dra. Rebeca chegou um pouco depois e ficou o tempo todo me monitorando.

cuidados e mais cuidados

O dia todo foi muito leve. Teve rolê pelo hospital, visita às salas de parto, passagem pelo berçário, dancinhas, comida gostosa, visita dos meus pais e do irmão do Igor e muuuitas risadas com o melhor trio: Igor, Isabelle (a doula oficial) e Rebeca.

Em paralelo, o cuidado e a atenção não paravam: fiz algumas vezes o exame de cartiotocografia para saber se os batimentos da Elisa estavam ok e, como não tive rompimento de bolsa ou avanço nas contrações, iniciamos a indução com o misoprostol. Quatro horas depois, nada de avanço. Passo dois: ocitocina na veia. Nada. Mais um comprimido. Nada! 

A essa altura, Belle e Rebeca chegavam à conclusão de que seria mais interessante deixar a gente passar a noite relaxando para, no dia seguinte, investir pesado na indução. Elas se despediram da gente, mas disseram estar a postos caso a gente precisasse na madrugada. Não precisamos e entramos no segundo dia de internação.

7 de maio de 2022 – sábado

A noite de sono foi tranquila (mais na frente, percebemos o quão necessária ela seria) e, ainda pela manhã, começamos o processo de indução. Eu tava nervosa, claro, mas empolgadíssima. Sentia que a qualquer instante ela poderia chegar. A playlist que a gente fez continuou tocando e o clima agradável proporcionado pelo meu trio me preparava ainda mais. Igor sempre segurando a minha mão, Rebeca cuidando da gente com toda atenção e Belle dedicada 100% ao meu bem-estar.

Dancinha pra espantar o tédio e a ansiedade. Quem adivinha a música?

Os comprimidos chegavam de 4 em 4 horas. O exame de toque não era feito sem necessidade, até porque é algo doloroso, desconfortável e, se eu não demonstrasse nenhuma evolução nas contrações, não havia necessidade de um exame invasivo assim.

Por volta das 14 horas, conversando com a Belle, perguntei sobre a sensação da bolsa estourando (nem sinal dela ainda) e até brinquei que só faltava a menina nascer empelicada. Parece que ela tinha me ouvido! Poucos minutos depois, assim que termino de fazer xixi e me levanto, a bolsa rompe! Belle analisa o líquido, fotografa para a dra. Rebeca e comemora. Nada de mecônio!

Um exame de toque, os mesmos 4cm de dilatação da manhã anterior! E agora? Simbora para mais um comprimido. Ao mesmo tempo, já no fim do dia, Belle me entrega a maravilhosa (só que não) mistura de água de coco, suco de laranja e óleo de rícino. Estranho, mas, segundo ela, é “parto na certa”!

Às 19h, mais um comprimido. Rebeca sai para um rápido jantar, mas, felizmente pra mim, o Igor precisou ligar às 20h30 pedindo para ela voltar: as contrações aumentaram e ritmaram!!! Veeeem, Elisaaa!!!

O parto

Eu estaria mentindo se eu dissesse que eu lembro de todo o trabalho de parto. Tanto que me assustei quando o Igor anunciou o horário do nascimento. Mas vamos por partes!

As contrações começaram a ter um ritmo mais definido e um intervalo de tempo mais curto. Também eram mais dolorosas, intensas. Não tem como explicar, sabe? São tipo cólicas muito fortes, que vão e voltam e que parecem afetar todos os seus órgãos, mexendo com o seu juízo, equilíbrio e sentidos. 

No meu caso, os banhos quentes eram os melhores anestésicos

Com a evolução do trabalho de parto, fica também cada vez mais difícil encontrar uma posição confortável. No meu caso, o banho quente e a bola de pilates se tornaram meus maiores analgésicos. Massagens, palavras reconfortantes, abraços, carinho também ajudaram muuuito. Os exercícios do pilates que eu tanto falei no post anterior também serviram demais, assim como relembrar os air squats (agachamentos) do crossfit.

Sim, você xinga. Você briga com quem está ao redor, você diz que parto normal é coisa de doido e que de normal não tem nada. Você se arrepende, chora, treme. Diz que é tudo culpa do pai da criança, que nada que a gente tá fazendo tá adiantando, que vai desmaiar. É verdade, você acha que a qualquer momento vai desmaiar.

Mas você também não percebe a troca de olhares entre médica e doula, que comemoram cada fase, que celebram a chegada à Partolândia, que iniciam a fase expulsiva sem te assustar – pelo contrário, é tudo na base do incentivo, da força, da admiração. Como se aquilo que você estivesse fazendo fosse uma das coisas mais especiais da sua vida. E é.

Quando eu cheguei perto da fase expulsiva, as salas de parto do hospital estavam ocupadas. “Laris, a Elisa vai nascer aqui no quarto mesmo, tá?”. Era o quarto 207, que tinha o nome dela na porta e tava decorado com frases de apoio, que já tinha o nosso cheirinho, que eu já sabia regular o chuveiro, que o bercinho já estava lá, esperando por ela.

Me senti privilegiada, acolhida, apoiada. “Laris, agora se agacha, segurando aqui, ó”, mostrava a doula ou a médica – não me lembro. “Não consigo!”, eu dizia. A posição estava desconfortável, eu tava inquieta, a dor era insuportável. Eu chorava, me sentia tonta, ansiosa, fraca.

8 de maio de 2022 – Dia das Mães 

Quando eu achava que não tinha mais forças, a fase expulsiva começou. As duas insistiram na posição, eu confiei e, finalmente, consegui me encontrar nela. Enquanto a Rebeca ficava de olho na saída da Elisa, a Belle e o Igor me apoiavam. 

Já na fase expulsiva, sem anestesia e com todo o apoio possível

“Laris, ela tá coroando. Quando você sentir outra contração, faz força!”. A contração chegou, a queimação começou. Soltei uma das mãos da grade da cama e toquei embaixo – senti ali a cabecinha dela, os fios de cabelo molhados, o calorzinho da sua pele. E talvez tenha sido esse primeiro contato físico com ela que me deu forças para a contração seguinte. “Na próxima ela sai!”, disse alguém (que eu já tava lombrada demais pra identificar). E, antes mesmo de alguém dizer “Empurra!”, veio a outra contração, muuuita força e, finalmente, Elisa chegou. Igor anuncia a hora do nascimento, se debulhando em lágrimas.

Eu fico em choque, sem acreditar no que tinha acabado de acontecer. Sem laceração, sem estresse, totalmente consciente, do jeito que eu queria, mas nunca imaginei como seria, ela chegou. Assim, de olhinhos abertos, já prestando atenção no mundo. Assim, calma, com um pai absurdamente emocionado e duas tias (sim, médica e doula foram automaticamente promovidas a tias!) encantadas, aliviadas, realizadas. 

Mudanças 

Foram as 7 horas mais intensas da minha vida, com dores que eu nunca imaginei sentir. Mas também com uma força, uma garra, uma obstinação que eu não sabia que eu tinha. Você vira bicho, você pensa em desistir, mas você segue firme. 

Elisa: Atenta e forte!

O parto da Elisa mudou o meu mundo e minha forma de ver a vida, sem exagero algum. Além da chegada da minha filha, que já é uma grande mudança, ele deu início a um processo que sigo vivenciando até agora: o do respeito às mães, à individualidade e à história de cada uma. Cada caso é um caso, cada parto é um parto. E por isso que é um momento tão único. E é por isso que não cabe a ninguém julgar e ser julgado.

O parto foi memorável e a amamentação segue sendo um desafio. Mas isso é tema para um próximo post!

Quer conferir os relatos anteriores? Pois olha os temas que eu já abordei:
Os preparativos para o parto humanizado
Diabetes gestacional: o que é, quando descobri, como estou lidando
A abelhinha da maternidade e o medo da infertilidade
Eu, o teste de gravidez e o coletor menstrual

Larissa Viegas