A abelhinha da maternidade e o medo da infertilidade

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Estava tudo pensado, mais ou menos calculado e já planejado. Era outubro de 2020 e a gente combinou: chegou a hora de tirar o DIU! Mas, antes mesmo de marcar a consulta, vieram umas decepções, uns problemas no trabalho e a sensação de que era um sinal para pisar no freio um pouquinho. É, bora adiar alguns meses.

O ano virou, a pandemia seguia truando, mas a abelhinha da maternidade/paternidade não saía da cabeça dos dois, juntamente com alguns fatores que me preocupavam: a idade avançando, o conhecimento de que NUNCA SERÁ o momento perfeito e a endometriose/adenomiose. Sentamos, conversamos entre si e com a dra. Kathiane Lustosa (minha ginecologista que descobriu as doenças) e decidimos, mesmo com tantos poréns, dar esse passo. E no dia 14 de janeiro eu tava lá, de bata, no hospital para tirar o dispositivo. A conversa com a médica foi a seguinte: tentem e, ao invés de esperarmos um ano, caso não dê certo, esperamos só seis meses.

O semestre, claro, foi de expectativas e muita ansiedade. Meu ciclo menstrual estava funcionando melhor do que nunca, então eu sabia exatamente quando a menstruação chegaria. E, com ela, tinha também aquela decepçãozinha.

É muito louco como nos sentimos impotentes, incapazes, frustradas, né? É uma sensação de inferioridade, incompleta, de que “todo mundo consegue, menos eu”.

Voltei na dra. Kathiane no dia 12 de julho e saí de lá cheia de guias de exames: sangue, contagem de folículos, histerossalpingografia, controle de ovulação, ultrassonografia voltada para endometriose e adenomiose e espermograma pro marido. Afinal, as causas de infertilidade podem ser femininas (35%), masculinas (30%) ou de ambos (20%). E a gente sempre se culpa 100%.

É um tal de liga pro plano, confirma se faz tudo por ele, liga para inúmeras clínicas, visita diversos médicos, tenta encaixar o máximo de exames possível nos horários livres… Só a histerossalpingografia (HSG) merecia um texto à parte, tanto pela violência médica sofrida quanto pela bizarrice do exame. Em resumo: sua função é permitir a avaliação do trajeto percorrido pelo espermatozóide até a trompa de Falópio, local onde ocorre a fertilização do óvulo. Com ele é possível pesquisar e identificar as obstruções das trompas e aderências na pelve que podem bloquear parcial ou totalmente as regiões peritubáricas, que são contribuintes comuns para a dificuldade de engravidar. Ao mesmo tempo, ele também desentope tudo, removendo o que pode estar impedindo a passagem do espermatozóide e, assim, permite que a paciente engravide depois. O médico insere um cateter no orifício externo do colo uterino e injeta um contraste para realizar algumas radiografias. Porém, não tem anestesia e o médico que fez meu exame era um bruto, sem paciência e sem empatia nenhuma….

Peguei todos os resultados e levei para a minha ginecologista. Ao analisar tudo, ela informa: não tem nada que impeça nenhum dos dois de ter filhos. Se houver algo que esteja dificultando, é a endometriose. Mas a quinta-feira dessa consulta, no dia 2 de setembro, era também o quarto dia de atraso de uma menstruação pontual. Informei à médica sobre esse atraso após a notícia da possível necessidade de uma cirurgia de endometriose. Ganhei mais uma opção: estar grávida! E o resultado vocês já sabem, né? Podem (re)ler aqui também!

Sobre infertilidade

A pedido de vocês, conversei com a minha obstetra, a Rebeca Matos, sobre infertilidade. Segundo ela, a condição está presente em 15 a 20% dos casais. Eles se enquadram nesse perfil quando não há concepção após um ano de tentativa, sem usar nenhum método contraceptivo. E, como vocês mesmas conversaram comigo, ela disse que “apesar de não ser uma doença física visivelmente, ela pode causar muitos danos psicológicos.”

Se você tem percebido que existem mais casais inférteis hoje, saiba que não é só impressão. Segundo a obstetra, diversos fatores têm contribuído para este fenômeno. E aquilo que eu falei lá em cima, sobre postergar a maternidade, está entre eles. Infelizmente, o tempo, para nós mulheres, não está a nosso favor (só pra variar, né…).

“Apresentamos uma queda de aproximadamente 11% da fertilidade, para cada ano, após os 30 anos”, diz.

Aí você me conta: Laris, estou tentando há tantos meses engravidar. Será que eu sou infértil?

Segundo a Rebeca, essa investigação deve iniciar após um ano de falha nas tentativas. Se você tiver mais de 35 anos, o processo pode iniciar em seis meses. O mesmo tempo que a dra. Kathiane me deu, já que eu tinha uma condição que poderia limitar a fertilidade. Além da endometriose, síndrome dos ovários policísticos e obesidade também se encaixam nesse quadro.

“Ahh, mas eu sou xófeeem”, você me diz. Então o segredo está na paciência e na calma. “Entre os casais tentantes, cerca de 50% ficarão grávidos em 3 meses, 60% engravidarão em 6 meses, e aproximadamente 85% engravidarão em um ano”, explica Rebeca.

E, novamente, cuide da sua cabeça. O psicológico também interfere na ovulação. Estresse físico e emocional dificultam o processo.

É difícil (e eu sei porque passei isso na pele) não se pressionar e ignorar as cobranças familiares e da sociedade como um todo. A saúde mental não é a única nem a principal causa, mas é, comprovadamente, influenciável. É por isso que médicos que atuam na área de reprodução contam com uma equipe multidisciplinar, com nutricionista, psicólogo… O trabalho é voltado tanto para quem não consegue engravidar quanto para casais que tiveram várias perdas.

Vale reforçar que a investigação deve sempre levar em conta o casal. Infelizmente, em torno de 10 a 15% ainda permanece sem diagnóstico, a chamada infertilidade sem causa aparente. “Na dúvida, procure um ginecologista. A consulta deve ser completa e vários fatores são avaliados, como frequência sexual, hábitos de vida, uso de drogas ou anabolizantes, peso corporal, etc. A consulta pré-concepcional é importante para qualquer mulher!”, completa a médica.

Gostaram do texto? Sobre o que mais vocês querem que eu fale?

Larissa Viegas

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