Oi, pessoas, aproveitei o mês de outubro pra contar uma história pra vocês. Minha mãe, Verônica, teve câncer de mama e ficou curada, então aproveito o espaço que o Penteadeira me proporciona para compartilhar isso com vocês. Espero que seja importante como é para mim.

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Fonte: ONDDA

Quando completei 15 anos, minha mãe descobriu que tinha câncer de mama. Era abril de 2010 e tudo o que eu sabia era o que estudava na escola e o que via na televisão, que era muito pouco. As novelas mostram coisas e os programas falam sobre as doenças mas você nunca sabe o que realmente vai acontecer até estar frente a frente. Aprendi muito durante todo o processo.

Descoberta
Quando eu era ainda mais nova, até uns 14 anos, minha mãe era servidora terceirizada do Governo do Estado e sofremos muitas vezes com os atrasos salariais e os cortes de funcionários. Para evitar que isso continuasse acontecendo, ela resolveu estudar para o concurso da Prefeitura para professor de educação infantil. Passou em segundo lugar. Quem já passou em concurso sabe que, para ser admitido, o funcionário precisa entregar uma série de exames e foi aí que minha mãe descobriu. O tumor era bem pequeno e estava na mama direita. O tratamento começou imediatamente.

Descobrimos sucos, sopas, o poder do mingau de aveia. Muitas coisas ajudavam, mesmo que fosse só efeito placebo. Na época, uma fruta ficou muito famosa por, supostamente, curar o câncer: o noni. Vendia em todo lugar e diziam que você devia tomar com suco de uva. Meu pai tratou logo de conseguir, mas minha mãe achou muito ruim e não conseguiu tomar. Pra falar a verdade, acho que ela teve medo de ser venenoso ou fazer mal no futuro.

Quimioterapia, radioterapia
A quimioterapia era às quartas-feiras, e a medicação deixava todo o corpo dela muito mal. Nós morávamos em um apartamento sem elevador, na época, e depois da quimioterapia íamos para a casa da minha avó, que tinha espaço, e ela não precisava subir escadas. Foi praticamente um ano inteiro dormindo todas as quartas fora de casa e vendo minha mãe passar mal.

Nesse período, estar na minha casa com as minhas coisas era a melhor diversão que eu almejava ter. Acordar em um sábado, ligar o computador e ficar lendo sobre Harry Potter enquanto ouvia minhas músicas era algo que me deixava extremamente feliz (e que eu não podia fazer sempre). Talvez por isso eu goste de sair de casa bem menos do que as outras pessoas da minha idade.

Fonte: Buteco para Garotas
Fonte: Buteco para Garotas

Depois da quimioterapia, ela fez a cirurgia e colocou um tipo de prótese extensora, que ia ocupar o lugar do silicone (por algum motivo, a prótese definitiva não pôde ser colocada imediatamente) e era preenchida com soro sempre que ela ia ao médico. Depois disso, veio a radioterapia, que queimou a pele do lado direito dela, causando dano ao pescoço, axila e braço. Até hoje ela faz sessões de drenagem linfática porque, depois da cirurgia e da radio, essa parte do corpo não consegue mais levar os líquidos para os linfonodos.

Foi mais de um ano de tratamento intenso e precisamos esperar mais ou menos outros 4 anos para ter a certeza de que ela ficaria boa.

Love by Grace
Prestei muita atenção ao que o mastologista da minha mãe, que hoje é amigo da família, nos falou. Ele explicou que, como se tratava de um tumor pequeno e que foi diagnosticado muito cedo, aquele era um caso com 100% de chance de cura. Isso me deixou tranquila, apesar de tudo. Então eu consegui me manter forte na maioria dos momentos pra conseguir acalmar minha mãe e meu pai, que pareceu ter sido mais afetado que nós duas em algumas horas.

O único momento que não consegui me segurar foi quando minha mãe pediu que eu cortasse seu cabelo. Ela estava tomando banho e me chamou pedindo pra eu levar uma tesoura. “Filha, corta meu cabelo? Não consigo tomar banho direito porque ele fica caindo o tempo todo.” Obedeci e cortei. Vi todo o cabelinho liso dela cair no chão e formar um montinho. Vi a cabeça careca e comecei a tremer. Terminei, lavei as mãos e voltei pro meu quarto. Chorei e tremi muito até ela vir até mim e dizer que estava tudo bem “você fez um bem a mim, eu não estava conseguindo tomar banho e agora consigo.”. Acho que nunca vou esquecer desse dia.

Eu, olheiras gigantes, minha mãe e meu pai
Eu, olheiras gigantes, minha mãe e meu pai

Religiosidade
Apesar de eu não ter certeza se acredito em Deus, meus pais são católicos praticantes e a religiosidade deles só aumentou na época do tratamento. Além do catolicismo, desde pequena ouço falar do espiritismo e surgiu a oportunidade de nós 3 participarmos de uma sessão espírita especial com alguns meses de tratamento.

Esse centro espírita estava recebendo o médium João Berbel, conhecido por viajar pelo Brasil realizando cirurgias espirituais nas pessoas, através do espírito de Dr Alonso, conhecido como “o médico dos pobres”. A cirurgia espiritual acontece de duas formas. A primeira é na sua própria casa. Você escreve uma carta para um centro espírita que tenha esse tipo de atendimento e eles respondem com a data da sua cirurgia, as orientações e qual o nome do espírito que vai te visitar. Você precisa vestir branco, passar um dia sem comer carne e estar deitado e com uma garrafa de vidro cheia de água ao seu lado. No horário marcado a cirurgia acontece, mas o paciente não vê nem sente nada. (Quando eu fiz para minha tendinite, dormi na hora e só acordei bem depois). A água que você deixou do lado vira um tipo de água benta e é recomendado que seja bebida todos os dias até acabar.

A segunda forma é a que minha mãe fez para o câncer. Nós fomos até o centro espírita e recebemos uma senha. Na vez dela, recebeu a “água fluidificada”, que é como é chamada a água benta dos espíritas, e entrou em um tipo de enfermaria. Tirou a roupa e vestiiu uma bata branca fornecida pelos voluntários. Deitou e recebeu a orientação de que devia pensar em Jesus. O médium veio, ouviu da voluntária qual a doença da minha mãe, passou um metal no seio dela, marcando um “x”, colocou um algodão com álcool e saiu. No lugar da marcação, colocaram curativos e disseram que ela podia ir embora.

Quando saiu da enfermaria, ela recebeu um caldo de legumes para tomar na hora, como um tipo de remédio pós-operatório, e um saquinho com plantas e sementes moídas, que ela deveria tomar misturado em água até acabar. Um mês depois, ela realizou uma ultrassonografia e o tumor havia sumido.

A radioterapia veio depois disso, mesmo sem haver mais tumor, por precaução. Os médicos espíritas recomendam que as pessoas nunca parem seus tratamentos mesmo depois de realizar a cirurgia espiritual.

ultima

Depois da cura
Hoje minha mãe é coordenadora de uma creche da Prefeitura de Fortaleza, costura bonecas e sacolas com fantoches que vende para todo o Brasil e acabou de comprar uma casa nova para nós. Conseguimos nos recuperar bem, apesar das sequelas que ficaram nela.

Como o tipo de tumor dela não permite que haja tratamento com hormônios, a menopausa da minha mãe foi antecipada. O cabelo dela que nasceu depois que eu cortei veio todo branco e depois ficou preto (nunca entendemos isso) e ela parou de alisar, assumiu os cachos antes de ser moda hahaha.

O câncer ficou pra trás como eu nunca achei que ficaria. Agora que tenho 22 anos e faço parte do grupo de risco, faço exames de prevenção anualmente. Minha mãe tá se danando mais ainda e com muita saúde. Deu tudo certo!

camarao

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