A coluna de hoje traz, com seriedade, uma reflexão que infelizmente não está acontecendo no Brasil, mas bem que poderia.
Estamos as vésperas do Carnaval, mas, não só nessa época, ao invés de podermos curtir tranquilas, nos vestirmos como quisermos, bebermos o quanto quisermos, nos divertirmos como bem entendermos, não, as mulheres são mais uma vez desrespeitadas.
Muito tem se falado na internet de uma tal música que pretende ser o hit do Carnaval desse ano, da qual eu nem sequer ouso a copiar nenhum trecho, mas que entre outras coisas deprimentes faz uma apologia brutal sobre a cultura do estupro.
E isso me traz um misto de muito medo e preocupação do mundo no qual tenho criado minha filha. Dá vontade de mandar para o mundo que eu quero descer junto com ela daqui!
Numa sociedade em que se objetifica a mulher e onde a vítima acaba julgada como culpada, é preciso criar nossas crianças diferente. Me fez novamente refletir sobre quanto do como nos vestimos pode nos levar a ser estupradas?
E a resposta veio numa notícia lida ontem no Independent, jornal inglês, sobre uma exposição triste e ao mesmo tempo impactante, que expõe roupas de pessoas que foram estupradas e faz a seguinte pergunta: ‘What were you wearing?’ (numa tradução livre, O que você estava usando?).
A exposição traz à tona o julgamento feito à maioria das vítimas, inclusive aqui no Brasil, de que o que ela estava usando poderia em algum nível atrair possíveis situações. E mostra, através de uma resposta tangível, que as roupas nada têm a ver, incitam nem muito menos justificam, qualquer tipo de comportamento abusivo e que fazer esse tipo de questionamento muitas vezes pode até ser extremamente danoso na recuperação das vítimas. Apresentando roupas tais como pijamas, roupas de caminhada e corrida e até uma blusa infantil do Meu Querido Poney, as peças mostram roupas tão inocentes quanto as vítimas.
Uma exposição dessas deveria ser criada aqui no Brasil, para provar que somos sempre vitimas, nunca culpadas por sermos, nos comportarmos e usarmos o que quisermos!
E claro que vocês estão se perguntando porque eu linkei com a tal música. Pra mim, além de impactante, a exposição me faz refletir que não adianta a gente combater a cultura de estupro, expondo a verdade das vítimas, se dançarmos até o chão aquela música nova que nos denigre e alimenta essa cultura.
Então eu serei forte na minha luta, especialmente em tempos de hits de Carnaval, se não pra mim, pela minha filha.
E você?
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A exposição ‘What were you wearing?’ acontece num centro comunitário da Bélgica chamado Molenbeek e estará aberta entre 8 e 20 de Janeiro.
Nota da editora: A música foi retirada do Spotify depois de uma mobilização das usuárias para denunciar a faixa e o artista pelo conteúdo violento da letra. O infeliz que escreveu a música se pronunciou dizendo que, se a música fala de estupro, então ele era um estuprador, porque escreveu apenas sobre a própria realidade. Alguém avisa a ele que sim, ele é mesmo um. E alguém avisa à polícia também, porque criminoso precisa ser preso.
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