Um texto sobre saúde mental e o que fazer quando alguém próximo precisa de ajuda

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Chester Bennington, ex-vocalista do Linkin Park, se matou aos 41 anos. Kate Spade, estilista, famosa, bem sucedida, cometeu suicídio aos 55 anos. Há algumas semanas poderia ter sido eu, mas meu lado “consciente” me fez pedir ajuda antes de tomar uma decisão equivocada. Vamos refletir e falar sobre saúde mental?

Tenho 23 anos e fui diagnosticada aos 19, mas eu sempre soube que tinha depressão. Eu parava de brincar com minhas amigas no condomínio e me escondia pra chorar aos 11 anos, mordia meus braços para diminuir a dor da alma aos 12 e desejava morrer aos 15. Sabia que algo estava errado, mas meus pais, por falta de conhecimento, diziam que eu não precisava de uma psicóloga.

Apenas aos 18 anos, por iniciativa  própria, fui para uma consulta e foi desastroso. Durou apenas um mês. “Você tem ansiedade generalizada, isso é muito comum hoje em dia, é a nova depressão”, foi o que a psicóloga disse. Era a primeira vez que eu ouvia aquilo.

O que é ansiedade? É um padrão de nervosismo e preocupação constantes. Não é aquela ansiedade que você sente antes de ir para uma festa, antes de uma viagem. É uma doença e, por isso, te faz ficar nervoso, ter taquicardia, suor excessivo, distúrbios gastrointestinais por nada, ou por coisas que, aparentemente, não “necessitavam” de ansiedade, como esperar na fila da padaria e pegar um ônibus.

Minha vida é muito ligada ao amor, e eu não sei passar muito tempo solteira. Aos 15 anos terminei meu primeiro namoro, e a tristeza daquela época nunca passou, é a mesma. Claro que por diferentes motivos, diferentes pessoas, às vezes vem fraquinha e eu consigo lidar muito bem, mas nunca passou, não.

Nas minhas reflexões eu entendo que o start da depressão foi naquela época, apesar dos acontecimentos anteriores, como se eu tivesse uma pré-disposição a quebrar a perna, mas o osso só tivesse quebrado naquela época. Hoje, minha vida amorosa está completamente saudável e feliz, mas a vida me apresentou outros jeitos de alfinetar e estou vivendo um momento difícil na depressão.

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Estou escrevendo porque, apesar de não ser famosa, meu suicídio poderia ter chocado muitas pessoas, assim como o do Chester e da Kate. Ouvi comentários tipo “mas a Kate era tão bem sucedida, não tinha motivos para se matar”, e aí eu queria dizer pra vocês que, a não ser que você PRECISE que um segredo morra imediatamente com você, as pessoas não se matam por um motivo específico. Elas só querem que a dor vá embora.

Transtornos mentais nos impedem de viver normalmente. Durante um bom tempo eu não conseguia ir para shoppings e ficar em paz, porque achava que todos estavam me olhando, me perseguindo e falando de mim. Não queria sair de casa porque achava que meu ex-namorado abusivo estaria lá para fazer algum mal, não pegava ônibus.

Pessoas com ansiedade, depressão, bipolaridade e outros transtornos vão agir diferentemente das “normais” e reagir diferentemente também. Se eu, Marília, resolver falar para uma pessoa aleatória “olha, acho que você anda rabugenta demais e isso pode afastar as pessoas de você”, a reação seria uma. Se essa pessoa aleatória me falasse exatamente a mesma coisa, a reação seria choro, taquicardia, e um mal estar que poderia durar dias, porque a ansiedade e a depressão não me deixam enxergar claramente as coisas e eu ficaria remoendo essa conversa por semanas. Estou sendo clara?

Queria que os leitores do Penteadeira se juntassem a essa conversa para que eu pudesse esclarecer melhor como uma pessoa assim se sente e o que vocês poderiam fazer para ajudar. Por exemplo, é comum que alguém com depressão seja convidado para sair, porque as pessoas acham que é só se distrair que essa pessoa vai melhorar, mas ela, quase sempre, vai negar esse convite. O conselho que eu dou é: não deixe de convidar. Mesmo que ela recuse sempre, é importante saber que você lembrou dela na hora de sair, que você se importa com a companhia dela.

Transtornos mentais não somem só porque você se distraiu, arrumou um emprego novo, viajou. Eles somem, ou, na maioria dos casos, diminuem, com tratamento correto. Psiquiatras e psicólogos estão no mundo para isso. Pessoas que sofrem com essas doenças precisam de apoio, precisam saber que você pode contar com elas mesmo que seja só para um abraço.

Pra terminar, peço desculpas pelo texto longo, mas depois de ver algumas coisas na internet, achei que seria necessário falar sobre minha experiência e dar dicas.

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