Modolo: um biscoito de jatoba, um crocante munguba, Nilza Mendonça

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Foto que mais gosto do livro Em Busca dos Sabores Perdidos

Sei que o prometido para as colunas deste mês era uma serie sobre pães. Mas resolvi quebrar a programação para homenagear uma pessoa que tem um grande significado para o Ceará e, para mim, uma importância pessoal ímpar.

Filha de seu Nando, de 103 anos, Nilza Mendonça, nascida em Guaraciaba do Norte, recebeu, mais do que merecido, nessa última terça-feira (17), o título de Cidadã Fortalezense.

E quem é essa pessoa que tanto encanta?

Não preciso fazer apresentações depois disso, contudo, preciso dizer o quanto essa mulher me é especial. E, para isso, preciso contar a vocês onde ela ganhou minha admiração.

Quando eu cheguei no Senac, ouvia sempre falar de uma senhora que desbravava os interiores do Estado na nossa unidade móvel de gastronomia, uma carreta que tem uma cozinha montada e que serve de sala de aula errante, que leva conhecimento aos lugares mais remotos. Tinha curiosidade em conhecê-la. Certo dia, terminando uma aula, lá vem ela, entra na minha sala, se achega e pergunta:

– Você que é o professor novo de São Paulo?

– Sim , sou eu.

– Sou a professora Nilza, da unidade móvel, me pediram para passar a semana com você.

E ali eu tinha certeza, com toda a minha inexperiência, que ela vinha me ensinar a dar aula. E perguntei:

– Mandaram a senhora aqui pra me ensinar.

– Não, eu vim foi aprender!

– E que eu tenho a ensinar a alguém com tanta experiência?

– Eu preciso das técnicas!

E a troca de olhar com aqueles olhinhos apertados estabeleceu uma parceria permanente. Nasceu uma amizade sincera, um querer bem mútuo.

Essa nossa parceria me rendeu muitos prazeres, como fazer o bolo de 95 anos do seu pai, com um violão de chocolate decorando e cheio de notas musicais; fazer o circo para o aniversario do Luke; estar na comemoração dos 100 anos do Nando.

Quando ela recebeu o título de Personalidade da Gastronomia pela revista Prazeres da Mesa, fiquei incumbido de levá-la à festa sem que desconfiasse de nada. Todos preocupados se ela ia aguentar a surpresa, e eu dizia que o que aquele coração tem de grande, tem de forte. De repente, lá se vem ela, com um pote cheio de alguma compota, geleia, polpa, farinha, semente torrada e uma pergunta… vamos usar isso em quê?

Essa pergunta rendeu o livro Em busca dos sabores perdidos, que carinhosamente acompanhei a construção, cada uma das fotos, e tenho um exemplar autografado pela autora e um imenso orgulho de ter feito parte desse projeto.

Enfim, gostaria de deixar registrado aqui meu grande carinho e admiração por essa pesquisadora, cientista, mãe, avó, tia Nilza. Eu não podia faltar a mais esta homenagem e nem deixar de homenagear-te.

Pois só você…

Me faz caminhar 10km mata a dentro, perdidos, buscando frutas e raízes.

Sem uma gota d’água matar a sede com caju.

E se eu pergunto, preocupado, se está cansada.

Serena, de sorriso largo responde: Não, eu vou no meu tempo, não me canso.

Beijos e até o nosso próximo encontro com a gastronomia temperada com algumas especiarias.

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