Modolo: Confusão! O mesmo prato, dois nomes ou o mesmo nome, dois pratos!

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Paladar - O Estadão
Paladar – O Estadão

Sempre quando retorno ao “meu interior”, em São Paulo, vejo quão grande e diferente pode ser o nosso país. Gastronomicamente falando, há diferenças gritantes e que causam muita confusão. Quando eu me mudei pro Ceará, passei alguns apertos, pedi coisas que, quando chegaram, olhei e disse:

Não foi isso que eu pedi!

Entretanto isto é bastante rico e importante para mostrar o quão diversificada é a cultura brasileira e os costumes regionais que precisam ser cada vez mais valorizados. Por isso eu trago, para abrir o ano, uma coletânea de ingredientes, produtos e pratos que ganham nomes diferentes de acordo com a região e aproveito para desfazer algumas confusões.

Pão francês, Cacetinho ou Carioquinha.
Pão francês, cacetinho ou carioquinha

O pão francês, como chamamos em São Paulo, é conhecido como cacetinho no Rio Grande do Sul e, em Fortaleza, é o famoso carioquinha. Uma vez me disseram que chamam carioquinha porque tem a “casca grossa e o miolo mole como os cariocas”. E quando você vê personas como Alexandre Frota, faz total sentido, embora não dê para generalizar.

Mandioca, Aipim ou Macaxeira.
Mandioca, aipim ou macaxeira

A mandioca para os paulistas, no Sul vira aipim e no Nordeste, macaxeira. Essa já gera uma pequena confusão porque classificamos em mandioca mansa (para comer cozida) e mandioca brava  (para fazer farinha d’água) e, no Nordeste, macaxeira (para comer cozida) e mandioca (para fazer farinha), mas o produto é o mesmo.

Abóbora ou Jerimum
Abóbora ou jerimum

A abóbora para os paulistas se torna jerimum no Nordeste, mas em ambas as culturas combina muito bem com a carne de sol, carne seca ou charque, que também varia de nome de acordo com a região e a concentração de sal. Essa junção resulta em deliciosas preparações, como escondidinhos, creme de abóbora ou jerimum com carne de sol.

AS GRANDES CONFUSÕES ESTÃO DIVIDIDAS EM DUAS CATEGORIAS:

O mesmo nome para dois pratos

Pé de moleque

pé de moleque

O que para nós aqui em São Paulo é um doce de amendoim torrado envolto em caramelo de açúcar ou rapadura, no Ceará é um bolo de farinha de mandioca ou carimã (puba), depende da receita, rapadura, especiarias e castanha. Pratos completamente diferentes e sem parâmetro de comparação entre si. Essa foi uma das primeiras confusões que tive no Ceará, pedi um pé de moleque esperando o docinho de amendoim e me entregaram uma fatia de bolo escuro, cheirando a cravo, erva doce e canela com uma castanha de caju decorando. Foi onde eu fiquei com um olhar perdido entre a expectativa e a realidade.

Paçoca

Paçoca

Para nós paulistas também se trata de um doce de amendoim torrado, salgado e pilado com açúcar branco ou mascavo, depois prensado para formar tijolinhos ou rolhas. Enquanto no Ceará, trata-se de uma farofa de farinha de mandioca, com carne de sol e cebola roxa pilada bem tradicional para acompanhar as refeições.

O mesmo prato e dois nomes

Aqui tem mais confusão que cabelo numa espiga de milho

Curau (São Paulo) ou Canjica (Ceará)
Curau (São Paulo) ou canjica (Ceará)

Sabem aquele doce cremoso à base de milho verde, que pode ser consumido quente ou gelado, polvilhado de canela ou sem, que faz mais sucesso que o Wesley Safadão nas festas juninas? Então… Por nós paulistas ele é conhecido como curau e pelos cearenses como canjica.

Canjica (São Paulo) ou Mugunzá (Ceará)
Canjica (São Paulo) ou mugunzá (Ceará)

Para nós paulistas, canjica é aquele doce cremoso feito com o milho branco cozido no leite e açúcar, às vezes com um pau de canela para aromatizar. Para o cearense isso já é mugunzá. E que se você for para outras regiões como o Cariri, por exemplo, ele se torna um prato salgado de milho amarelo cozido com carne, bacon e linguiça.

Mugunzá Salgado
Mugunzá salgado típico do Cariri, Pernambuco e Rio Grande do Norte

Eita lasqueira!

Dados nomes aos bois, desfeitas as confusões entre paulistas e cearenses, fica só mais uma dica para evitar gafes. Nunca se refira a um paulista como “vocês lá do sul” de maneira generalista. Da mesma forma como os cearenses e nordestinos não podem ser chamados de nortistas ou resumidos à Paraíba.

Beijos e até o nosso próximo encontro com a gastronomia temperada com algumas especiarias.

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