Há uns dias, recebi uma mensagem pelo Instagram que me deixou bem perturbada: uma leitora queria saber quem era minha obstetra, porque sempre que ela comentava com um ginecologista que queria engravidar, era imediatamente criticada por estar acima do peso.
Durante toda a minha vida ou boa parte dela, eu estive acima do peso. Não tenho nenhuma foto na adolescência magrinha. Sempre foi muito difícil estar na minha pele, principalmente com relação aos médicos. Nunca gostei deles, porque eles sempre arranjavam uma forma de encontrar doença em mim.
“Ah, o joelho está machucado por causa do peso, não porque você caiu de patins”
“Mas, doutor, e o meu pulso, que também está machucado e não melhora, é por causa do peso também?
Ou dá pra gente dizer que foi a mesma queda de patins?”
Tudo que eu tinha, todas as vezes, era, de cara e preguiçosamente relacionado ao excesso de peso. Não havia investigação, só havia observação e preconceito. Gordofobia dentro do consultório – eu sofri.
Claro que a obesidade traz muitos problemas à saúde, não estou dizendo que não. Mas nem sempre magreza é sinônimo de saúde, assim como nem sempre gordura é sinônimo de doença.
Tenho consciência do meu tamanho, dos meus limites e das minhas deficiências. Quando quis engravidar, começar a tentar de verdade, não procurei um médico. Fui direto a uma nutricionista, porque eu sei que excesso de peso tem a ver com descontrole hormonal e que tem a ver com infertilidade.
Também sei que engravidar gorda demais pode acarretar em uma gravidez de risco, com problemas pra mãe e pro bebê, e eu não queria isso. Fui na dra. Raquel Pessoa, ela entendeu meu objetivo, fez uns cálculos e me disse que seria seguro perder pelo menos 10 quilos antes de engravidar. E assim fizemos. Fui em abril, em agosto já estava liberada, em novembro descobri a gravidez com 5 semanas. Foi rápido. Perdendo um pouco de peso, ajudei meu corpo a funcionar melhor. Mas eu não fiquei magra, longe disso.
Assim que engravidei, fui atrás de obstetra. Não tinha indicações e caí em uma que atendia numa clínica que minha mãe frequentava. Segundo ela, todo mundo falava muito bem da médica, era um primor, tinha muitos equipamentos no consultório.
Fiz os primeiros exames e absolutamente todos deram dentro da normalidade, sangue e urina. Ultrassom também ok. Eu e a bebê estávamos bem. Mas a mulher implicou com minha pressão: 12 por 8, que ela disse ser muito alta para uma gestante. Que pressão de gestante tinha de ser baixa. Disse também que eu não poderia engordar demais, porque eu já era gorda. Saí da consulta sem saber o que fazer.
Os meses foram passando, e a cada consulta, eu tentava me sentir orgulhosa: exames todos perfeitos, 6 meses e apenas 4 quilos extras. Mas a obstetra procurava e procurava motivos pra me botar pra baixo, mesmo sem indício de saúde fragilizada em mim e na Penélope. Exames bizarros e desnecessários, só pra, a cada resultado, ela ver com os próprios olhos que, sim, a grávida gorda estava ótima. Não tinha risco. Acho que ela odiava a mim mais do que eu a ela, justamente pela minha saúde de ferro ir contra toda a prática preguiçosa de medicina dela.
Em 6 meses, nunca consegui conversar sobre parto com essa senhora. Cesarista, calada, antipática e desconfiada. Sempre sentia que estava indo a uma consulta com o dr. Caligari (até rolava uma semelhança física, hehe). Às 25 semanas, consegui encontrar minha atual obstetra, indicada pela Laris.
Perguntou tudo sobre a minha vida, viu todos os meus exames, quis saber se eu sempre tinha sido “uma moça grande”. Quando eu disse que sim, ela só disse que estava tudo bem. E que minha gravidez estava saudável e tranquila, que eu só precisava fazer uns exames finais. Voltei com 29 semanas, cheia de noias, e ela falou com toda a sinceridade do mundo: “Eu não me preocupo com você. Nem um pouco. Sua gravidez não é de risco, você não tem nenhum indicador de que vá ter algum problema. Estou tranquila”.
Chorei, sério. Ela é, sim, a favor do meu parto ser normal, porque eu não tenho indicadores de pré-eclâmpsia, não tenho diabetes gestacional, não tenho nada. Até no peso ela falou que eu ainda tinha folga pra aumentar com saúde. Eu é que estou com outra nutricionista (agora a Islanne Leal) e acompanhando a alimentação para também não ganhar muito e depois ser mais difícil de perder.
Todo esse textão foi pra dividir minha experiência sendo grávida, gorda e muito, muito saudável. É possível, sim! Mas a gente precisa encontrar profissionais de saúde que vão fazer avaliações reais da gente, sem preconceito, sem pré-julgamento, sem supor que você não vai ser uma gestante maravilhosa por estar acima do peso. Mulheres de todos os tamanhos engravidam. E tem muitas magras que têm problemas, assim como tem muitas gordas que não têm. Cada mulher é diferente, cada organismo é diferente. Mas pra gente vai ser sempre mais difícil – muito mais pelo preconceito do que pelo funcionamento do nosso corpo.
Ah! Tem uma página sensacional no Facebook sobre o assunto: Mãe de Peso. Lá tem depoimento, tira-dúvida, fotos incríveis de partos domiciliares que correram perfeitamente apesar da balança. É inspirador! ♥
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Gordofobia é mesmo o nome, Alinne! E eu acho que está ficando cada vez pior. Não planejo engravidar ainda, mas cai já várias vezes na conversa do meu peso, e que ele é o motivo pra qualquer coisa de ruim que aconteça comigo em todos os setores da minha vida. Fico feliz de ver que dando uma procurada é possível encontrar pessoas que enxerguem as coisas sem preconceito. Voce esté linda, by the way! Boa sorte na reta final! <3
Valeu, lindona! A gente pena, mas sobrevive, hehe. Beijão <3
E vc está cada dia mais linda. E com certeza minha neta(?) vai ser tão linda quanto a mãe. Te amo e estou rezando para as duas terem muita saúde e eu mimar muito. hehehe.
Ô mulher, chorei. Que a Penélope herde tua saúde de ferro, leveza e força de viver. Bicha linda! <3
Fiquei curiosa para saber qual sua atual obstetra, quando comecei a ler o texto pensei em te indicar a minha (Dra. Liduína) que fez meu parto normal, uma pessoa humana e justa. Fico feliz por você e te desejo muito amor , Penélope vai ter uma mãe super amável e saudável (sim)! beijos
Arrasou, mulher! Isso é que é ser autêntica! Uma boa primeira lição pra sua filhota. Parabéns!
Achei muito bacana vc dividir sua história, principalmente com quem está planejando engravidar estando acima do peso.
Eu não tenho filhos, nem engravidarei futuramente, mas já passei muito por isso de tudo ser “culpa” do excesso de peso. Pior que não são apenas os médicos, parece que tido mundo só vê os quilos extras como causa de doença nos obesos. Quando quebrei meu tornozelo caindo de uma escada não foram poucas as pessoas que me disseram “foi por causa do seu tamanho”. Que tédio!!! Felizmente, meu traumatologista mesmo me ajudou dizendo que pessoas magras quebram ossos com mais facilidade do que as bordas, justamente por não contarem com uma camada de proteção tão grande ao esqueleto. Mas que dá raiva, dá. E muita!!!
Parabéns pelo seu bebê, que ela venha com muita saúde e te traga muita felicidade!!!
Tive um aborto espontâneo em junho deste ano com seis semanas, chorei muito pois meu sonho de ser mãe é imenso, sou obesa mas graças a Deus mt saudável também passei por vários exames e tds deram perfeitamente bem mas sim sofro mt preconceito por querer ser mãe estando acima do peso, os médicos não tem uma maneira carinhosa ou educada de nós dizer isso até parece que temos culpa ou que podemos emagrecer num piscar de olhos e os obstáculos ficam cada vez maior e vc perde a esperança e a vontade de tentar e se culpa por não poder ter um filho por está acima do peso, vc me mostrou ser uma mulher de personalidade forte e q n devemos desistir pq temos tanto direito quanto qualquer um de sermos mãe ser gordinha n quer dizer ser doente assim como ser magra n quer dizer ter uma saúde de ferro que tua bb tenha mt saúde assim como vc e obrigado por ter postado isso de uma forma q nos fizesse acreditar q tds somos capazes e q n devemos desistir pq os médicos nos ver com olhos de pessoas doentes e incapazes.
Oi, Patrícia! Fico muito feliz que você tenha encontrado o meu depoimento. Não perca as esperanças. Aproveite esse tempo de reconstrução pra encontrar um obstetra respeitoso e que possa acompanhar tua próxima gravidez com a atenção e o carinho que você merece. A perda de um bebê pode acontecer com qualquer mulher, de qualquer tamanho. Se você está saudável, não associe isso ao seu peso. Continue se cuidando e tentando! Vai dar certo logo, logo, e você vai viver esse tão sonhado e lindo momento que é a maternidade. Beijo!
Libertador o seu texto!!!!!! Simplesmente amei!!! Estou gravida e tb gorda!!! Mas com exames e resultados otimos!!! Minha obstetra até agora se mostrando bem cuidadosa comigo e com meu bebê que ainda nem sei o sexo mas que amo demais!!! Por mais pessoas como vc!!!
Grata
Gratiissimaaa
Michelle, mulher! Que felicidade o seu comentário! Fico muito feliz em ter te ajudado. Uma gravidez maravilhosa pra você, muita saúde pra você e seu bebezinho. E esse amor cresce muito, infinitamente, todo dia, viu? Se prepare pra viver fortes emoções! hehe! beijo!
Nossa… Super me identifico.. estou grávida de 3 meses, minha gestação é super saudável e estou com obesidade.. sempre fui assim… Nunca fui magra… Minha família é assim.. e antes de engravidar a ginecologista disse que eu não engravidar ia tão cedo pq estava muito pesada. Botei na cabeça que não conseguiria. Meses depois estava eu gravídissima… E super saudável… Mas também já passei por obstetra que me deixou frustrada que não me olhava como gestante ou como gente me olhava como um ser de outro mundo que o que fazia da vida era comer e comer.. e na verdade não é assim. Não como muito. Como só o necessário mas minha genética é assim.. meu biotipo é assim… E decidi que não vou deixar que ninguém me rotule sou gorda e serei mãe. Ponto!!
Aline, muito obrigada pelo seu depoimento!!
Sigo o blog de vocês e já tinha lido o texto anteriormente, mas voltei para reler e comentar.
Desde que me conheço por gente sempre fui gorda… em alguns momentos mais, outros menos. Já fiz diversas dietas mirabolantes a vida inteira.. .emagreci um monte e engordei tudo novamente (tudo e um pouco mais)… mas sempre fui uma gorda saudável, com os exames em dia.
Recentemente descobri minha gravidez (estou de 6 semanas). Como moro em uma cidade onde conhecemos pouquíssimas pessoas, não tive indicação de nenhum obstetra e acabei marcando com um da mesma clínica que eu fazia o acompanhamento ginecológico antes de engravidar.
Semana passada foi minha primeira consulta pré natal e eu saí arrasada… o médico sequer olhou algum exame e disse que pelo meu peso minha gravidez seria de alto risco. Fiquei apavorada.. e toda a alegria que eu sentia no momento virou preocupação e tristeza. Eu faço tratamento para um transtorno de ansiedade e essa consulta sinceramente acabou comigo. Estou a uma semana refletindo desesperada se é possível ter uma gravidez saudável mesmo sendo gorda. Foi aí que lembrei do seu texto aqui, que eu tinha lido ano passado… reli e me senti abraçada por ele!!!!
Obs: fiz todos os exames que o médico solicitou e todos deram excelentes mas vou procurar outro médico pois acredito que precisamos de um médico pé no chão que mostre os riscos sim, mas que não fique procurando pelo em ovo e que saiba tranquilizar a gestante!!!
Muito obrigada pelo seu texto, do fundo do coração!!!
Vanessa, sinta-se muito abraçada por mim e pela Penélope (que já fez 1 ano e 1 mês!). Vai dar tudo certo, você é saudável, está saudável e vai ter uma gestação linda. Cuide da alimentação para não ganhar tanto peso e aproveite muuuito! Se precisar conversar, tirar alguma dúvida, me manda email: alinne@gmail.com. Beijão e parabéns pela gravidez!
[…] Em cada dia de evento, acontece uma novidade especial. No domingo, o grupo “Mamães, Gestantes e Tentantes Plus Size”, um debate voltado para as mamães gordas, pra falar sobre cuidados e preconceitos – que existem mesmo, e eu passei gordofobia médica em trabalho de parto. Aliás, tem um monte de posts aqui sobre minha experiência de gestação acima do peso. […]