Minha experiência com amamentação, fórmula e a sociedade

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alinne e penelope 4 meses

Daqui a 10 dias, a Penélope completa 7 meses. Já começamos a introdução alimentar aqui em casa (com orientação da nutricionista linda Islanne Leal, que vai ter videozinho e post nos próximos dias) e não queria deixar de falar sobre como foram esses 6 meses de amamentação.

Eu contei aqui no site sobre os desafios do nosso primeiro mês e como o maior de todos foi a amamentação. Até os dois meses, ainda tive episódios de obstrução de ductos lactíferos, mas já era tão comum que eu mesma já tinha luva e agulha em casa e desobstruía sozinha.

Bastava o peito encher um pouco mais que acontecia isso. Como sempre era chato e doía, eu preferia nunca deixar o peito encher. Esvaziava todo na amamentação e estava sempre oferecendo à pequena. Eu sempre tive leite, mas era somente o suficiente pra ela. Quando tinha um compromisso fora de casa e precisava tirar leite, eram vários dias pra encher um saquinho, porque se eu tirasse muito de uma vez iria faltar pra ela.

Fiz algumas vezes nos dois primeiros meses, até quando tive uma viagem a São Paulo. Levei a Penélope comigo, de avião, bem novinha, contra todo mundo que criticava (se quiserem, posso escrever sobre viagem de avião com bebê também). Minha mãe foi junto, pra ficar com ela no hotel enquanto eu ia ao meu compromisso. Mas como fazer com o leite? Não daria pra levar congelado daqui. Não teria tempo de tirar lá o suficiente antes de sair.

Falei com a pediatra e pedi uma fórmula. Gente, parecia que eu tava comprando a droga mais terrível do mundo – porque é assim que os grupos de maternidade, os blogs, os vídeos no YouTube fazem você se sentir. Com dor no coração e o maior sentimento de culpa, comprei um latinha de NAN HA (fórmula hipoalergênica) e viajamos.

denise e penelope 4 meses

Minha mãe tentou dar na colher, no copinho, como ela tomava o meu leite desmamado, mas não rolou. E aí cometemos outro crime, que foi usar uma mamadeira. Ganhei uma mamadeira da Avent de uma amiga (obrigada, Estela!) e levei. Ela é larguinha, o bico um furo muuuito pequeno, o formato é larguinho, pra lembrar o peito, e o sistema pétala exige que o bebê se esforce e aperte a “aréola” da mamadeira pra tirar o leite. Dos males, o menor.

Aos 2 meses e pouco, Penélope começou a tomar fórmula na mamadeira sempre que eu tinha compromissos e precisava ficar longe dela. A primeira lata durou mais de mês. Até hoje, evito usar a fórmula (que recentemente mudou pra NAN Supreme 1, que é até 6 meses, e a próxima lata vai ser a 2, que é a partir de 6 meses), porque sei demais da importância da amamentação exclusiva até 6 meses e da prolongada até os 2 anos.

penteadeira-amarela-nan

– Pausa pra falar sobre minha volta ao trabalho: eu não voltei ao trabalho porque nunca parei e trabalhar. Sou freelancer, tenho minha empresa e trabalho em home office. Como o recém-nascido, teoricamente, dorme muito, eu teria, teoricamente, tempo pra trabalhar. Não parei de escrever, tive reuniões (e até a levei pra uma e amamentei na sala de reunião), dei palestra, fui a palestras (e levei minha mãe pra ficar com a Penélope do lado de fora, e eu saía quando ouvia ela chorando pra amamentar) e, nesses 2 meses, fiz um revista inteira passando dias inteiros fora de casa. O primeiro dia foi horrível, ela não aceitou a fórmula, eu não consegui tirar leite, e minha mãe levou ela até o trabalho pra que eu a amamentasse e ficou comigo a tarde inteira. Não era fácil, nunca foi uma escolha fácil dar fórmula. Continuo trabalhando em casa, e o meu dia é pautado por ela. Agora ela tá dormindo, acabou de mamar e de comer melancia, e eu tô aqui, aproveitando a pausa. Nossos dias são assim, corridos, exaustivos, mas eu tenho a certeza de que estou fazendo o meu melhor pra mantê-la saudável e conseguir ganhar meu dinheirinho. – 

A verdade é que a fórmula me ajudou a voltar ao mercado de trabalho, a voltar a me sentir eu mesma, que foi uma coisa que me fez pirar o cabeção também. A gente sabe que é difícil, mas nem imagina o que significa de verdade ser mãe – fraldas sujas e pouco sono é só o começo. Você realmente, de um dia pro outro, não consegue mais ser você, não tem mais a opção de ser você, de fazer o que você quer, o que você precisa, nada. Porque tem uma pessoinha que passa a ser mais importante que tudo o que você era e fazia e queria, mas de vez em quando bate aquele banzo, e a gente pensa no que foi e no que não está sendo.

Enfim, é complexo, é foda mesmo. É como se dentro de mim existisse a mãe plena, feliz, orgulhosa, apaixonada, que só tem olhos pra cria, mas também ainda existisse a jornalista superativa, que gosta de trabalhar sob pressão, que não sabe dizer não a trabalho nenhum, que vai pra eventos porque é importante ir a eventos, que também gosta e precisa se cuidar, se divertir e… não faz mais nada disso. É lindo e frustrante. Maravilhoso e triste. Completa e incompleta. Seis meses ainda não foram suficientes pra encontrar esse equilíbrio, mas ele há de chegar.

A fórmula usada com moderação me ajudou e ajudou a minha filha. Ajudou meu marido a se sentir mais incluído na criação. Ele agora também alimenta, além de trocar fraldas, botar pra dormir, dar banho etc. A mamadeira não desmamou a Penélope. Ela continua doida por peito e nunca nega quando ofereço, mesmo se tiver tomado leite na avó. É me ver e querer mamar.

penelope 4 meses

E se estou usando este espaço pra confessar meus crimes, confesso também que me rendi à chupeta quando Penélope completou 3 meses, descobriu as mãos e começou a chupar o dedo pra valer durante o sono. Pras mães empoderadas, o dedo é natural, prejudica pouco a dentição e a fala e, um dia, no tempo da criança, ela vai perder o interesse e largar. Bom, a teoria é linda, mas eu tenho uma prima que chupou o dedo até os 18 anos. Preferi a chupeta. Escolhi uma da Avent também.

O que quero com este texto é dizer que cada experiência de maternidade é única. Cada mãe sabe até quando ela consegue amamentar, se ela vai querer ou precisar usar fórmula, mamadeira ou chupeta. Este é o relato de uma mãe que se sentiu muito culpada e pressionada por todos os lados (tanto outras mães da minha idade crucificando fórmula e se orgulhando de nunca terem dado nada pro filho além de leite materno quanto gente mais velha fazendo vozinha de bebê enquanto eu amamentava dizendo que a Penélope queria era um mingauzinho) e fez o melhor que conseguiu.

Confiei na tecnologia, gastei uma grana com mamadeira, bico, chupeta, fórmula e tento, todo dia, manter minha filha feliz e saudável. Tem sido difícil, mas é muito mais difícil porque tem muita gente dizendo o que e como você deve fazer as coisas.

Alinne Rodrigues

3 comentários

  1. Nossa, estava procurando alguma matéria sobre introdução alimentar e a experiência com NAN SUPREME, tua matéria me impactou, é bom não se sentir só, as vezes parece tão fácil pra tanta gente e eu como mãe de primeira viagem me viro como posso pra proporcionar o melhor pra minha baby, me sentindo culpada em muitos momentos por ter que ir trabalhar ou sair pra tomar um café com uma amiga, hoje ela tem 7 meses, espero que essa fase melhore.

  2. Sensacional! Me identifiquei completamente com a sua descrição do sentimento ambíguo da maternidade. Enquanto existe a mulher ativa e cheia de vontade de continuar com o ritmo da vida de antes, agora existe um serzinho que não te deixa mais fazer aquilo que você quer na hora que bem entender. Ultimamente tenho entrado nessa noia e seu texto conseguiu descrever fielmente o meu sentimento. É bom saber que existem outras mulheres com o mesmo dilema e não estão se sentindo absolutamente regojizadas apenas em serem mães como a sociedade preconiza que seja. Estava buscando na internet sobre a possibilidade de uso da fórmula com amamentação, pois preciso sair e deixar meu bebê com outra pessoa, e encontrei seu artigo. A sensação é justamente essa, de estar cometendo um crime. Um medo enorme de dar a fórmula e ele largar o peito. Seu artigo me deixou muito mais aliviada, vi que é possível fazer isso sem traumas. Obrigada por compartilhar!

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