Inspirador, inebriante, mágico!
Oz?!
Não, Jericoacoara!
Realmente um mundo à parte que você só chega após sacolejar como Dorothy e Totó no olho do furacão. Conhecido destino de praias de mar calmo e ventos que propiciam a prática de esportes como wind e kitesurf. O ambiente da pitoresca vilazinha vale a pena cada minuto, dos quarenta e poucos, do cansativo transfer numa jardineira pela estradinha estreita de calçamento e pelas dunas que levam a esse paraíso.
Ostentando um dos mais belos horizontes onde o sol se põe diariamente, assistido no camarote de areia por centenas de turistas, Jeri proporciona um contato com a natureza e espetáculos que são vistos em poucos destinos turísticos. Não há como não se apaixonar por esse maravilhoso lugar.
Nesta minha visita, apesar de não estar turistando, fui a negócios, pude ter outro olhar por Jericoacoara!
Sempre quando viajo, busco conhecer a essência do lugar e cavar oportunidades para que isso aconteça. As pessoas que conhecemos e as experiências às quais somos submetidos são a joia de maior valia em qualquer viagem que fazemos.
Como estava prospectando negócios, pude a cada empresa visitada conhecer pessoas e histórias incríveis de vida. Mas uma em especial me cativou.
Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.
Antoine de Saint-Exupéry – O Pequeno Príncipe
Aquele sotaque italiano me aninhou de volta no colo da minha nonna. Pessoa de energia boa, conectada com a natureza, aura colorida, de bem! D. Virginia está à frente de um ótimo lugar pra se hospedar. Apesar de ter ficado em outro lugar, irrecomendável, pude visitar sua aconchegante pousada e já escolher meu lugar de descanso para a próxima ida. Com uma arquitetura com traços que me lembraram Santorini, o Espaço Nova Era Pousada é uma ótima opção para hospedagem.
Lugar charmoso, com toques de decoração ao estilo namastê, conta com um jardim muito bem cuidado, gatinhos correndo dentre as plantas, uma piscina e o que mais me fascinou, uma horta!
L’ Appassuliatella cuidadosamente mantém canteiros com zucca, melanzane, spinaci, basilico, ravanelli, rucola e peperoni (abóbora, berinjela, espinafre, majericão, rabanete, rúcula e pimentas). Ao ver as ramas de abóbora repletas de cambuquiras, o cheirinho da sopa de milho com os deliciosos brotos me veio à lembrança me enchendo a boca e os olhos d’água. Não nego que bateu forte a saudade da Dona Cida (minha avó), que fazia a maravilhosa receita, e da minha vida, Vilma (minha mãe) que reproduz com fidelidade cada aroma e sabor em pratos fundos nos dias frios de São Paulo.
Vale ressaltar que todo esse carinho é sustentável: nos bastidores da pousada há composteiras que transformam os resíduos orgânicos gerados em fertilizante natural. Fantástico!
Falando em boa energia, na primeira noite que saímos pra jantar, vagamos sem rumo buscando uma atração. E que surpresa boa o destino nos trouxe. Conheci o Kundalini, um lugar peculiar, rústico, com uma proposta vegetariana e vegana, mas que não deixa os não adeptos desamparados, pois mantém um camarão entre as opções.
O que nos chamou a atenção inicialmente foi o ambiente. Um mix de Índia com a cultura hippie dos anos 70, uma kombi colorida, tendinhas, almofadas, janelas velhas adaptadas a mesas, achei tudo muito criativo e fofo.
O cardápio não é extenso. Como entradas pedimos um falafel com um molho de berinjela defumada. Surpreendente!
Para o jantar eles oferecem uma opção onde você monta o seu próprio prato a partir das opções do cardápio. Como um ser carnívoro sem possibilidade de conversão, fiquei no camarão que acompanhei com guacamole.
Fiquei satisfeito de modo que a sobremesa não coube, mas achei interessante uma opção vegana que é um sorvete de banana com amendoim e caramelo. Estou até agora imaginando o sabor!
Por falar em sabor, preciso ressaltar uma das comidas que ostenta tal característica em Jeri. O Restaurante Pimenta Verde me conquistou pela qualidade dos pratos, frescor dos ingredientes e sabor incomparável.
Pontos altos da refeição, textura perfeita da quinoa e dos legumes, um peixe gratinado com um toque de curry na medida certa e uma berinjela à parmegiana com um molho de tomate surreal. Sem falar num molho de pimentas malaguetas perfumadíssimo, mas que requer parcimônia.
Há na vila opções para refeições bem em conta. Na rua São Francisco, você encontra várias opções de pratos feitos entre R$ 10 e R$ 15 que me relataram ser bem honestos.
Entretanto, na despedida, como uma opção próxima à minha hospedagem e para não perder o horário, acabei conhecendo o Jerimum, um pequeno restaurante que tem preços bem atrativos. Comi uma moqueca de arraia por R$20 que me surpreendeu. Saborosíssima!
Como nem só de gastronomia vive o homem, para quem se liga em moda, como eu, Jeri também tem suas surpresas. Fiquei encantado com a loja da Associação das Crocheteiras Mundo Jeri.
Peças muito delicadas feitas artesanalmente por dezoito associadas deste grupo que já está junto há nove anos. Mas ao contrário do que muitos pensam (eu confesso que também pensei) não se tratam de senhorinhas de oitenta anos, elas têm entre 20 e 50 anos e a tradição do crochê passa de mãe pra filha. Bolsas, jogos americanos, saídas de praia e belíssimos vestidos podem ser encontrados por lá.
O mais interessante e curioso é o funcionamento da organização. As associadas deixam suas peças em consignação e recebem o valor da venda. Para a manutenção da loja cada uma produz peças para a loja. E as pessoas acham que loja colaborativa é uma novidade?! Elas já fazem isso há quase dez anos. Há em Jeri outras associações e crocheteiras autônomas que totalizam cerca de 60 mulheres que vivem da arte.
Então este foi meu olhar por Jericoacoara. Desta vez, novos encontros, novas descobertas e experiências que se eternizam.
Beijos e até o nosso próximo encontro com a gastronomia temperada com algumas especiarias.
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