Nem sempre os ingredientes sobre os quais eu falo aqui têm aromas, sabores e cores definidas, são palpáveis ou mensuráveis em balanças.
Esta semana fui convidado a participar de uma mesa redonda, promovida pelos alunos da capacitação de confeiteiro do Senac CE, como projeto integrador e encerramento do curso. Discutimos gastronomia, técnicas de trabalho, perfil profissional, tendências, legislações e o próprio mercado. Foi muito bom e uma honra dividir a mesa com ex-alunos que hoje são colegas de profissão, profissionais de outras instituições, com pensamentos e opiniões tão diversas. Isso enriqueceu demais o momento!
Porém, o que vim colocar aqui vai além do que passamos a tarde discutindo. Após todo o cerimonial do evento, fomos convidados a uma sala para um momento de confraternização com os alunos, que nos acarinharam com preparações muito cuidadosas e bem pensadas, valorizando os ingredientes regionais.
Dentre o cardápio desenvolvido, tinha um salpicão com mix de batata inglesa e doce (que me levou aos natais da minha casa por um momento), uma releitura da paella na qual uniram frutos do mar, carne de sol, maxixe e jerimum que deram um caráter todo regional ao prato. Além dos doces maravilhosos dos quais se destacaram a cheesecake de jambo, o brownie com brigadeiro de cajá e as trufas de munguba!
De todas as coisas que rolaram ali, duas me marcaram profundamente. Uma foi quando uma ex-aluna, empresária e colega da mesa citou uma frase minha de sala de aula:
Uma vez uma pessoa me ensinou que quando se tem técnica, a receita é irrelevante! Né, professor?!
E aquele olhar nos olhos me lembrou de como somos capazes de marcar outras pessoas. E de como as pessoas nos marcam.
A segunda fez parte do meu discurso emocionado ao falar para os alunos que ali encerravam aquele ciclo e era algo que já vinha mexendo comigo desde o início da tarde.
Em 2009, durante um curso de menor duração que eu ministrava, uma aluna, olhando para os alunos de confeiteiro da sala ao lado, me disse:
Professor, um dia eu vou estar ali!
Eu respondi positivamente, incentivando, porém na incerteza desse futuro.
E eis que para minha grata surpresa e felicidade, neste encerramento de confeiteiro, ela estava realmente ali, fazendo parte dos formandos como sonhara 8 anos atrás.
Logicamente que ao resgatar essa história em minha fala, lágrimas não faltaram. Nela pela surpresa da minha lembrança do fato, em mim por não conter a emoção de vê-la realizando um sonho e nos demais pelo envolvimento causado pelo momento.
E onde eu quero chegar com todo esse rodeio?
Propondo a seguinte reflexão: assim como algumas gotas de limão podem abrir o paladar de um simples suco de caju, o tornando mais refrescante e, talvez, melhor, existem ingredientes, como a fé, perseverança, esperança, coragem, amor, compaixão dentre tantos outros que precisamos usar sempre para temperar a nossa vida e dos que nos cercam. Às vezes, uma pequena quantidade, uma gota, uma pitada que seja, pode ser a divisa entre o sucesso e o fracasso.
Nessa semana eu pude constatar que aquela gota de inspiração que eu nem percebi que derramei naquele caldeirão, o encheu de fé, perseverança e atitude para que pudesse ali transbordar e realizar seu sonho.
Pitadas de quê você coloca no seu dia a dia e no daqueles que participam dele?
Em que você esta transformando essa receita?
Beijos e até o nosso próximo encontro com a gastronomia temperada com algumas especiarias.
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