Breu e luz, uma reflexão sobre começos

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Meu pai sempre gostou de viajar sem planejamento. Tantas vezes chegava em casa e dizia “vamos pra tal lugar hoje?”. E já estávamos fazendo as malas, eu juntando os conjuntinhos de short e blusa que já sabia que dariam certo, com a calcinha no meio deles, tudo bem contadinho, minha irmã pegava variados e de vez em quando esquecia as calcinhas, ou o pijama.

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Minha mãe diz que isso a encantava nele, a coisa do supetão, de repente uma aventura! E ela ama aventuras, até hoje!

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Grande parte dessas viagens era para alguma praia próxima, ou distante, mas creio que metade, ou boa parte, era para a fazenda do meu avô. Aquele lugar que a gente sabia que teria o doce de leite inigualável da vovó, o leite mugido de manhã cedinho – precedido de perto pelo choro do jumentinho – e a personalidade peculiar do vovô, que às vezes faz a gente amá-lo demais, outras vezes faz querer voltar pra casa.

Quando a gente ia pra lá de noite, na parte da estrada de terra, bem quando a gente já tava longe das luzes da estrada asfaltada, mas não perto o suficiente dos poucos postes perto da casa do vovô, era tudo um breu. E o papai gostava de apagar as luzes do carro e andar um pouquinho assim, ou ficar parado.

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Lembro de algumas vezes que estávamos com o banco de trás abaixado e um colchão ali, íamos eu e minha irmã deitadas e dava pra ver o céu estrelado pelo vidro de trás. Mas na maior parte das vezes não dava pra ver nada.

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Uma sensação muito doida essa de não ver o que tem na frente. Dava medo e ao mesmo tempo uma empolgação, um frio na barriga. Sinto saudade de sentir isso, sentir que não sei o que vem pela frente, mas de uma forma gostosa, que dá aquele calorzinho/friozinho que não sei explicar, mas é bom.

Há algum tempo vivencio essa sensação de não saber o que vem pela frente, algumas vezes é bom, outras nem tanto. Essa memória me veio como um lembrete de que pode ser bom, contanto que eu tenha coragem pra continuar a seguir em frente!

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Obrigada pai e mãe, por esses momentos que vivi e por querer viver mais.

 

*As fotos são da estradinha de terra, foram tiradas de dia, porque ainda não tenho a técnica e a coragem suficientes pra fazê-las de noite. Quem sabe não seja essa a inspiração para criar a coragem e ir atrás da técnica?

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