Roupa não é descartável: dicas para construir um armário mais pleno e consciente.

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Descartes da industria têxtil na Índia que serão reciclados. Foto: Tim Mitchell
Descartes da industria têxtil na Índia que serão reciclados. Foto: Tim Mitchell

Como muita gente torce o nariz quando falamos de consumo consciente, principalmente quando se trata e roupas, já vou chegar jogando uma bomba no seu colo: você sabia que, só em 2014, o Brasil produziu cerca de 170 mil toneladas de resíduos de tecidos? Pois é. Se já parece um absurdo, pensa aí que esses números já estão defasados. Estamos em 2019 e a indústria só cresce, consequentemente, os resíduos também. Segundo o Sinditêxtil-SP, só na região do Brás e Bom Retiro (bairros de São Paulo onde ficam a maioria das lojinhas que as multimarcas vem se abastecer), são produzidas cerca de 12 toneladas por dia.

Nosso comportamento de consumo é um dos maiores responsáveis pela cultura das "roupas descartáveis". Foto: Pexels.com
Nosso comportamento de consumo é um dos maiores responsáveis pela cultura das “roupas descartáveis”. Foto: Pexels.com

“Ah, Rafa! Mas eu não trabalho na indústria têxtil e nem com reciclagem, o que eu tenho a ver com isso?” Tudo. O nosso comportamento de consumo incentiva – e muito – a produção excessiva de roupas. Compramos mal e compramos demais. Duvida? Chama um dos seus pais ou seus avós e pergunta para eles de quanto em quanto tempo eles costumavam comprar ou ganhar roupas novas quando eram jovens… Se algum deles era caçula da família, é arriscado ter herdado roupas dos irmãos e irmãs mais velhos durante anos. Antigamente, roupa era artigo de luxo, os tecidos eram caros, a produção era restrita. Em compensação, as peças eram de ótima qualidade, as pessoas eram mais cuidadosas com o uso e manutenção, e por isso as roupas duravam anos e anos.

Resíduos têxteis em lixão no Canadá
Resíduos têxteis em lixão no Canadá

Com o crescimento meteórico da industrialização e o barateamento da produção de roupas, a rotatividade e a quantidade de peças nos nossos armários aumentou muito. Está se tornando cada vez mais comum ter armários lotados de peças, algumas delas com pouquíssimo uso, e outras que não duram nem 3 lavagens direito. O resultado disso é que não só estamos fazendo cada vez mais mal para o planeta, como também pros nossos bolsos. Roupa fuleira é investimento ruim – e certeza vai virar lixo mais cedo do que tarde (sabia que a indústria têxtil é a segunda mais poluente do planeta? Perde só para a petrolífera). Como uma pessoa que já foi bastante adepta das “brusinha” e que mudou de vida, posso confirmar pra vocês: comprar menos e melhor vale muito mais a pena do que gastar com peças descartáveis.

Estamos comprando e descartando mais roupas do que em qualquer outra década da história. Foto: Pexels.com
Estamos comprando e descartando mais roupas do que em qualquer outra década da história. Foto: Pexels.com

Assim, decidi escrever aqui pro Penteadeira algumas dicas para ajudar qualquer pessoa a ter uma armário mais “consciente”, focando não só em como comprar com mais cuidado, mas também se preocupando com o uso e o descarte das roupas quando elas não funcionarem mais para você – seja por enjôo ou desgaste. Olha só:

Dica nº1: Pense bem antes de comprar

É importante parar pra pensar (bem) antes de comprar - assim, você evita impulsos. Foto: Pexels.com
É importante parar pra pensar (bem) antes de comprar – assim, você evita impulsos. Foto: Pexels.com

Como uma pessoa que faz compras (pra mim e para os outros) e já adentrou o armário de um bocado de gente, posso dizer, sem sombra de dúvida: a gente compra muita roupa por impulso e repetida. É muito normal chegar no armário de cliente e ter 3 saias ou calças praticamente iguais (jeans então, nem se fala!), e roupas que ela achou incríveis lá na loja e hoje tão lá no armário, ainda com etiqueta. Então, antes e fazer a sua próxima compra, abra seu armário e dê uma pequena revisada nele, para refrescar a memória com tudo o que você já tem. Dê uma olhada também no seu orçamento – Será que essa comprinha não vai comprometer algo que você tá querendo fazer? E depois, quando chegar na loja, pare um pouquinho para refletir, e se pergunte – Você realmente precisa dessa peça que tá te chamando aí nessa arara, ou tá comprando só por impulso? Você realmente vai usar e já consegue se imaginar combinando-a com várias coisas que você já tem? Será que você já não tem algo equivalente dentro do seu próprio armário? – eu te garanto, só essa paradinha para autoreflexão já vai ajudar a evitar rasgar uma boa graninha.

Dica nº2: Garimpe pérolas em brechós

Donatila, um dos brechós mais conhecidos em Fortaleza. Foto: Tribuna do Ceará
Donatila, um dos brechós mais conhecidos em Fortaleza. Foto: Tribuna do Ceará

A roupa mais ecológica que tem é a que já existe, e já tem tanta roupa no mundo, que se a gente quisesse, poderia passar anos sem produzir nada e ninguém ia passar dificuldade andando pelado por aí. Estudos de mercado divulgam que em 2027 vamos estar usando e comercializando mais roupas de segunda mão do que fast-fashion, e que o mercado de revenda deve duplicar e atingir cerca de U$51B nos próximos 5 anos. Que tal ser mais um serumaninho consciente e fazer parte dessa moda do bem? O mercado de brechós físicos e online cresceu muito, e não faltam opções com seleções incríveis pra você buscar uma peça para chamar de sua. Mora em Fortaleza? Aqui tem uma lista de brechós que você pode e deve conhecer.

Dica nº3: Revenda ou troque seus enjôos

Não tá afim de gastar 1 real sequer? Que tal juntar amigxs e familiares e fazer um bazar? Vocês podem combinar de fazer uma limpa nos armários, se juntar e trocar peças, tomar uns drinks… Vai virar uma festa. E se organizar o bazar for demais para você, uma limpa no armário também pode render uma lojinha em sites como o Enjoei – e aí as roupas que você vender podem se tornar créditos para comprar peça novas ou um dinheirinho a mais pra ajudar no orçamento.

Dica nº4: Eleja peças de melhor qualidade

Pesquise, experimente e conheça a roupa antes de comprar. Foto: Pexels.com
Pesquise, experimente e conheça a roupa antes de comprar. Foto: Pexels.com

Não achou o que queria no brechó e nem no armários dos colegas? Não tem problema. O combinado aqui é o seguinte: antes de comprar a sua próxima peça nova, faça uma pesquisa em lojas com preços variados. Explico: às vezes, a diferença de preço entre uma peça de fast-fashion e outra em uma loja de melhor qualidade é pouca quando comparada à diferença de qualidade. Se você puder comprar de produtores slow-fashion e marcas que tenham cadeias de produção responsáveis, melhor ainda! Experimente, toque, vire a roupa do avesso e observe os acabamentos… sinta a roupa antes de comprar. E reflita: será que vale mesmo a pena comprar essa blusinha da “pra sempre 21” que vai se acabar em pouco tempo, ou é melhor dar uma graninha a mais e pegar algo melhor e que vai durar mais tempo no seu armário? 

Dica nº5: Cuide bem e faça durar!

Lavar (pouco) e adequadamente é o primeiro passo para fazer suas roupas durarem mais durarem mais! Foto: Pexels.com
Lavar (pouco) e adequadamente é o primeiro passo para fazer suas roupas durarem mais durarem mais! Foto: Pexels.com

E agora, com as peças que você já tem e com as outras que estão por vir, me faça uma promessa: você vai cuidar melhor do que você já tem, combinado? Não vale lavar de qualquer jeito, não vale socar tudo junto na máquina, e nem tacar alvejante pra tentar tirar mancha. Essa roupa aí vale dinheiro! Quanto mais tempo ela durar, menos você vai ter que gastar para repor uma peça estragada. E se você tá buscando dicas de cuidados para cuidar das suas roupas, corre lá nos destaques do meu instagram (@eunaotonamoda) que tem um especial só sobre isso.

Por último: por favor, não jogue roupas no lixo. Muitas roupas já meio gastinhas podem ser ótimas doações ou virar tecido de reaproveitamento. A C&A, por exemplo, tem postos de coleta espalhados pelo país inteiro para o movimento ReCiclo e algumas associações, como a Ecotece, também aceitam resíduos para reciclagem. O lugar de roupa não é no lixo comum!

Contâiner do movimento ReCiclo nas lojas da C&A
Contâiner do movimento ReCiclo nas lojas da C&A

Com essas dicas, espero ter ajudado você a começar a construir um guarda-roupa mais pleno: com peças melhores, mais diversificadas, mais queridas e com pouca produção de lixo. Bora nessa fazer o seu (nosso) dinheiro render mais e manter nosso planeta mais saudável?