O filme mais comentado até agora, este ano, não é de super-herói. É, inacreditavelmente, um musical com ares românticos e casal bonitinho. Estão falando que é “o melhor musical de todos os tempos”, “o melhor filme que já vi na vida” (essa foi o Tom Hanks que disse), “o que dizer sobre um filme que não tem nada de ruim pra falar?”, entre outros elogios escancarados.
Faz tempo que cinema, pra mim, é um amor, mas também uma diversão muito cara. Pra irmos eu e meu marido, são quase R$ 50 só de ingresso, fora combustível, estacionamento e pipoca. Por isso mesmo a gente sempre escolhe Netflix – a não ser que seja um filme do qual a gente goste muuuito ou que esteja esperando muuuito, e os últimos foram Jurassic World e Star Wars VII.
Mas o shopping Via Sul me presenteou com dois ingressos pro cinema, e domingo nós fomos ver, entre as muitas opções de filme em cartaz, o tão falado La La Land. Eu sou bem bobona e manipulável vendo filme. É muito difícil eu não me entregar à história, o que me tornava uma crítica bem furreca quando fiz isso durante um tempo no meu passado de redação de jornal. CLARO que eu iria amar o filme, porque amo musicais, amo Emma Stone, amo Ryan Gosling… Só que não foi bem assim.
Pra quem está por fora do filme, La La Land conta a história de uma garçonete que tenta ser atriz, de um pianista que quer abrir o próprio bar de jazz e de uma cidade que brilha mais que qualquer outra no mundo, onde é possível sonhar todos os dias e, de vez em quando, realizar esses sonhos. Los Angeles respira cinema, foi cenário de muitas histórias reais e fictícias e é onde Mia e Seb se encontram, se odeiam, se apaixonam e ~cantam as estações~.
As cores são lindas, têm momentos que têm um quê de technicolor. A luz é incrível, o figurino é lindo e me fez desejar ter um guarda-roupa de vestidos rodados e sapatos bicolores. Desejei o cabelinho da Emma Stone (mas estranhei a sobrancelha marcadíssima, mas faz parte do belo da atualidade, natural estar lá) e me apaixonei pelo galã feio Ryan Gosling.
A primeira cena é num engarrafamento tradicionalíssimo em LA (que cidade incrível essa onde até um engarrafamento vira cartão postal, né verdade?). É bonita, bem coreografada, com as pessoas saindo dos carros e dançando em cima e por entre eles. Mas se você não gosta de musicais, vai se contorcer na cadeira logo aí. A música é beeem clássica de abertura de musicais, bem Broadway, bem era de ouro de Hollywood.
Fiquei muito incomodada logo no início (não pela questão do musical). O filme parece ter sido pensado milimetricamente pra agradar o máximo de grupos possível, da academia ao hipster. Do saudosista ao moderninho. Da galera que só quer ver um filme leve à galera da estética, que gosta é de ver uma câmera ousada, planos sequência com gruas e uma metalinguagem. De quem viveu os anos 50, 60, 80 e 2000, seja nas cenas de dança ou nas de música.
Tudo é escolhido a dedo pra ganhar o coração de quem está assistindo (mesmo tendo consciência de que estava sendo manipulada, amei a cena na festa anos 80, pela bandinha com keytar, pelo A-HA, pela interação maravilhosa entre os atores… Que raiva! haha!).
O filme tem uma história legal, mas não é genial nem inédita. Os personagens são bons, verossímeis e geram identificação pelos encontros e desencontros que acontecem na vida; pelas decisões que tomamos quando pensamos em carreira x amor e as consequências disso tudo.
Mas La La Land não é um filme do Woody Allen clássico, no qual personagens e histórias se bastam. Ele é grandioso mesmo quando tenta ser intimista. É uma superprodução com uma pegada indie. Numa resenha de verdade, era neste momento que eu teria de falar sobre a direção de Damien Chazelle, o garoto prodígio, e do também bem comentado Whiplash. Mas eu nunca tinha visto nada dele, então prefiro fazer a Glória Pires e não opinar. A direção é muito boa, ponto.
Sobre musicais
- As vozes são esquisitas. Foi a primeira coisa que pensei. Emma Stone é rouca, como pode cantar tão agudo? Soube aí que ela cantou de verdade, fez as cenas no gogó com um ponto eletrônico tocando o piano, mas, gente, o software de afinação rolou valendo. Também rolou no Ryan Gosling, mas menos. A voz dele é pequena e ficou pequena mesmo, nada de mais. Mas todas as mulheres têm a voz aguda demais. Como só tem soprano nesse filme?
- Um bom musical precisa ter boas músicas. Assisti ao Picolino sei lá quantos anos atrás e até hoje cantarolo Cheek to Cheek sem precisar ouvir de tempos em tempos. Simplesmente ficou. “Heaven/ I’m in heaven”… Sei todas as músicas de Hairspray, Mamma Mia!, Moulin Rouge… Pode botar aí que eu adoro musical, adoro música, adoro cantar, inclusive tenho banda & trabalho com música em várias frentes, porém não consegui decorar nenhuma canção de La La Land.
- Não saí sapateando do cinema nem cantarolando o tema. Nada grudou. E até agora não tive vontade de procurar ouvir de novo pra tentar me apegar. Bem esquecível pra mim.
- Será que vão me xingar muito se eu disser que achei as coreografias mal executadas? Claro que é desleal comparar Fred Astaire, dançarino de verdade, com Gosling, que se esforçou pra sapatear e até pra aprender a tocar piano pro filme, mas não vou esconder a aflição. Stone também não é uma Ginger Rogers. Eu até vejo beleza no imperfeito, adoro isso nos filmes indie, e talvez essa mistura do despojado com o clássico seja o grande trunfo do musical, mas em mim não colou. E olha que não sou nem um pouco purista!
- Tem gente dizendo que é preciso ter visto todos os musicais de todos tempos pra entender todas as referências e o filme ser aproveitado em muito mais camadas. Mas que balela! Um filme é uma obra, precisa ou deveria se bastar. E ele não quer ser hermético, pelo contrário, e esforça e muito pra ser amado por todos.
Sobre o Oscar
Faz muito tempo que o Oscar não diz nada pra mim. Não espero os indicados, não aplaudo os vencedores e tenho a maior preguiça de ver qualquer coisa que não seja da categoria de roteiro original, a única que ainda considero. Prefiro filmes premiados em festivais obscuros e esquisitinhos ou nos gigantes indies Sundance e SXSW.
Um filme ter 14 indicações significa que ele agradou a um colegiado ultratradicional, conservador, velho, chato. Por mais moderninho que seja La La Land, ele resgata os musicais e a era de ouro de Hollywood, o que deixa os velhinhos da academia em polvorosa mesmo.
Se o Oscar é importante pra você, veja. Se não for, pode esperar chegar na TV a cabo ou na Netflix. Até lá, delicie-se com os grandes clássicos e com os moderninhos também. Sai mais barato, e a diversão é garantida. =)
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Crítica fraca e desnecessária. “A sobrancelha da Emma…” Oi? Sério isso? Criticar um filme levando em consideração gostos pessoais e só é totalmente desnecessário.
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