Em escapada do monstro Typhon, o Deus Pan ao deitar nas águas para refugiar-se teve a parte inferior do corpo transformada em peixe, segundo a lenda. Capricórnio é a constelação menos visível do Zodíaco, e só pode ser encontrada se estivermos atentos às três de suas estrelas mais brilhantes (Daneb Algedi, Dabih e Algedi).
Mas foi outro Deus grego, Dionísio, que providenciou o encontro dos três capricornianos que delineiam cada detalhe do Indie Café Bistrô. Foi entre taças, sabores, aromas de alcaçuz que nunca estiveram lá, tintos, brancos e perlage que Mirella, Daniel e eu nos encontramos.
Desde então, a consultoria transformou-se em assessoria, amizade, parceria e cumplicidade de 8 anos que resultam em 7 do restaurante inaugurado na sua primeira versão de novembro de 2010. Quando abriu no Shopping Salinas, a primeira casa era menor, um mezanino, uma escadaria, um tímido salão inferior e uma ampla área externa no Boulevard.
Aberto às 16h, o cardápio tinha muitos elementos de uma cafeteria, como os croissants, os crepes e as tapiocas, com alguns pratos de sopas, massas e risotos para os que permaneciam desfrutando do anoitecer.
Mas aos poucos o cardápio de bistrô contemporâneo foi ganhando corpo, força, uma variedade de carnes, peixes, frutos do mar e seus acompanhamentos. Nossas experiências gastronômicas começaram a fugir do controle e deram origem a muitos pratos durante esses anos. Como explica o prefácio do antigo cardápio, feito para comemorar o primeiro ano da casa e que já dava indícios de que a cafeteria não tinha mais espaço.
Com a mudança para a Vila Bachá nº 5 em abril de 2014, o restaurante mantém o café no nome fazendo referência aos cafés franceses e sua gênese, mas renasce com outra roupagem, alguns elementos que eram sucesso no Salinas ganham releituras e se transformam em entradas, pratos principais e sobremesas.
Este novo espaço revitalizou uma construção da década de 50 na vila, que avizinha a paróquia de Santa Luzia, onde residia e ainda residem alguns membros da tradicional família Bachá.
Marcado pelo aconchego, o ambiente mistura elementos modernos, como uma coluna de aço que sustenta a estrutura do salão e é parte da escadaria do antigo espaço, mesclada com peças de mobília restauradas, como o conjunto de sofás vermelhos do hall, o aparador com espelho, as cristaleiras, a adega em colmeia de madeira de demolição. Toda a decoração é adornada pelos quadros expostos da artista plástica cearense, a reconhecida internacionalmente Sandra Montenegro.
Sem falar no querido piano da família da Mirella, no qual me arrisco umas notas vez ou outra, que dá vida às noites musicais da casa e já chegou a acompanhar o nosso saudoso Raimundo Arrais e sua eterna companheira Ayla Maria cantando os sucessos italianos e o hino do Fortaleza (time do coração do cliente mais fiel da casa, Quesado). Tantas animadas são as noites musicais, muitas delas conduzidas com o Jazz e Bossa do Phe Carvalho e Neto Ferreira e garantidas todas as sextas-feiras com a MPB de Selma Silfer e Edson Martins dentre outros artistas que a casa sempre tem o prazer de receber.
Nesses 7 anos, vivemos ali muitas histórias. Encontros, desencontros, enlaces, desenlaces, chegadas, partidas (algumas muito dolorosas) e continuamos.
Mas todos esse momentos tiveram boa comida, risos de uma esposa feliz que de repente ecoam o salão seguidos de uma repreensão sutil do marido encabulado, lágrimas de alegria, saudade, mas tristeza jamais! Sempre tudo regado a muito vinho, brancos, rosés, tintos, verdes, espumantes e champanhes de uma carta cuidadosamente pensada para atender a todos os gostos.
Sinto tanto não poder estar junto desses dois irmãos que o destino me deu nessa noite tão especial de sexta-feira (17/11), quando comemorarão com todos os amigos e clientes! Mas, estamos sempre conectados, em sintonia, nos entendendo no olhar e recusando em coro o copo de suco de manga, tão carinhosamente preparado pelo chefe dos garçons, mas que tanto odiamos. Tão diferentes e tão iguais, almas trigêmeas!
Entretanto eu estarei em coração e deixando, como sempre fiz durante esses 7 anos, minha assinatura no cardápio. Para marcar a data, nasce um prato que carrega toda essa essa história, o Filé El Trio: risoto de cerveja com croutons de bacon, que é uma releitura da nossa sopa predileta da primeira versão do cardápio, acompanhado de filé alto com molho de alcaçuz que remete ao aroma que sacramentou o encontro desses três amigos. Ou vocês achavam que o alcaçuz surgiu para testes sem nenhuma pretensão?
Esse é meu presente para essa nova fase do Indie Café Bistrô, um prato que tem a nossa cara, a marca da tríade de capricórnio, formulado a 6 mãos e com muito carinho. E que venham os próximos 7 anos!
Beijos e até o nosso próximo encontro com a gastronomia temperada com algumas especiarias.
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