A mulher, o rock e que bom que agora fazem filme disso

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How to build a girl

Oi! Se você não me conhece, eu me chamo Alinne, e é muito piegas dizer isso, mas o rock mudou minha vida. Foi na MTV do final dos anos 90 e que eu conheci as primeiras bandas, e com uma internet discada ainda muito ruim e insipiente que baixei e troquei minhas primeiras mp3. Nos anos 2000, fui aos primeiros shows de bandas independentes da minha cidade, entrei numa banda que durou um ensaio no último ano da escola, e, na faculdade, comecei minha primeira banda de verdade, a Telerama. Com ela toquei em outras cidades, fiz amigos em vários lugares do Brasil e fiz minha primeira viagem aos Estados Unidos pra tocar no gigantesco e importante festival South by Southwest (SXSW).

Telerama em 2005

Cursei jornalismo porque amava música (e cinema também) e queria escrever sobre isso, ser jornalista musical. Consegui uma bolsa na rádio Universitária, criei projeto e gravei piloto de programa que nunca foi ao ar, ataquei de produtora cultural e inventei um monte de festivais pra tocar sempre, tocar muito. Virei estagiária de cultura e rapidamente consegui espaço no jornal pra escrever sobre as bandas locais. De vez em quando também era pauta com meus projetos musicais. 

Pra me formar, fiz uma monografia sobre Quase Famosos, abordando a crítica musical e os dilemas éticos de ser amigo da banda. Durante muitos anos, esse filme era a versão cinematográfica do meu sonho: um menino novinho, apaixonado por rock, escrevendo sobre rock pros principais veículos do país, vivendo uma grande história a bordo do ônibus de uma banda, sendo amigo dos rockstars e por aí vai. Mas ele era um menino, e eu, uma menina. E que diferença isso faz!

Quase famosos

No filme, as meninas que amavam rock eram groupies. Elas queriam se relacionar com os caras das bandas e, a partir daí, viver o sonho rock and roll. Não era disso que eu queria. 

Esses dias, vi um par de filmes que me fizeram lembrar desse tempo da minha vida e como eu queria que eles tivessem sido feitos antes: How to build a girl e Moxie!

O primeiro, com o título Como se tornar influente no Brasil, fala sobre uma menina meio nerd, meio gorda, que ama escrever e descobre na crítica de rock não só uma carreira, mas uma oportunidade de se reinventar. No colégio, era uma loser, fora de lá, uma profissional muito cool e genial.

Tipo Quase Famosos, mas com uma menina, que precisa criar um personagem pra se sentir mais confiante, que precisa enfrentar o machismo e o assédio no ambiente de trabalho, mesmo sendo menor de idade, mas, principalmente, uma menina que escreve com o coração, que erra, acerta, se constrói e se reconstrói, como toda menina de 16 anos.

Moxie!

Moxie! parece ser aquele típico filme adolescente: tem a menina quietinha, nerd e invisível da escola, o babaca que é capitão do time e a lista que coloca todas as meninas em categorias, transformando-as apenas em “a melhor bunda”, “o melhor peito” e por aí vai.

Mas Moxie! é diferente, porque a menina quietinha é filha da personagem de Amy Poehler (que também dirige o filme), que por sua vez, aos 16 anos, só queria derrubar o patriarcado e protestar por tudo na escola. Fã de Bikini Kill e o movimento feminista de punk Riot grrrl, ela, sem saber, inspira a filha tímida a criar um fanzine anônimo, Moxie!, pra denunciar o machismo na escola. 

Moxie!

How to Build a Girl é baseado no romance homônimo da jornalista Caitlin Moran, semiautobiográfico. A direção é de Coky Giedroyc, uma diretora que só tem no currículo narrativas femininas.

Moxie! também é baseado em um livro homônimo, da escritora e jornalista Jennifer Mathieu, com roteiro também assinado por mulheres. 

Por que é que quando eu era young adult só existia o Nick Hornby? Nada contra (quer dizer, algumas coisas contra hoje em dia), adoro tudo dele, mas cansa demais ver as mesmas histórias com os mesmos homens brancos héteros quebrados que precisam de uma manic pixie dream girl pra consertá-los. Ninguém aguenta mais querer ser essa garota, que só serve pra assegurar o protagonismo do cara. 

Que bom que as vozes femininas estão finalmente sendo ouvidas. Agora mal posso esperar pra minha filha de 5 anos crescer, e a gente mergulhar juntas nesse novo mundo de possibilidades. 

Alinne Rodrigues