A gente ama tanto o Ronaldo Fraga que é sempre impossível não comentar os desfiles dele. Tudo é lindo, bem construído, e o tema de cada coleção se transforma em peças muito autorais, um tanto artísticas e totalmente usáveis.
Para o verão 2014, Ronaldo escolheu o futebol de várzea como inspiração. O pai foi goleiro amador, e ele cresceu vendo o esporte sempre associado ao amor, ao prazer pela prática.
O estilista transformou a passarela em um “campo” de piçarra, com direito a trave de bambus. Estilizou chuteiras para calçar as modelos, que vestiram peças com estampas, linhas e formas futebolísticas.
Mas o desfile de Ronaldo Fraga na São Paulo Fashion Week não foi recebido só com aplausos. A beleza, assinada pelo maquiador Marcos Costa, da Natura, causou polêmica: como uma forma de homenagear os negros, ele usou palha de aço como peruca.
“Criei uma beleza com uma pele de verão que leva apenas uma base transparente. Para os lábios, usei batom pink e laranja. Por fim, para a cabeça das modelos, bolei perucas de palha de aço. Isso mostra que um suposto cabelo ruim é na verdade uma escultura em potencial”, disse Marcos.
A repercussão foi imediata nas redes sociais. Publicamos uma notinha na nossa página no Facebook, e a leitora Karine Ferreira deu início à discussão:
“Ridículo e preconceituoso. Só quem já foi chamado de ‘cabelo de bombril’ sabe o que sentiu. Não necessariamente negros têm cabelos ditos ‘ruins’. Isso é um estereótipo no mínimo arcaico, que tá enraizado na nossa cultura. Colocar modelos negras na passarela ninguém quer, né? Mas colocar um bombril no cabelo das brancas de olho azul tá tudo bem. E ainda é uma ‘homenagem’. Me poupe, Brasil… Me poupe!”.
Algumas amigas jornalistas também se manifestaram, e pedi para a Natália Paiva, que começou no O POVO, passou pela Folha de S. Paulo e agora está na Espanha, comentar o assunto:
O que justifica a escolha do material? Quais implicações simbólicas ela traz? Como se sente quem sempre teve o cabelo associado a palha de aço? São questões fundamentais. Em um país racista como o Brasil — onde cabelo crespo ainda não é cool, mas alvo de tortura das pranchas quentes –, ou se faz um desfile que se propõe a debater a questão de forma crítica ou não se ousa usar um material que evoca séculos de violência simbólica. Não esqueçamos: uma das formas mais cruéis de racismo é a que menospreza o corpo do outro, visto como feio e inferior. Como nêga-do-cabelo-pixaim, só digo uma coisa: por favor, deixem meu cabelo em paz!”
Tanto Ronaldo quanto Marcos procuraram se retratar. No Facebook, o beauty artist publicou: “Nunca foi minha intenção ou de Ronaldo Fraga ofender ou discriminar quem quer que seja. A ideia para o look do desfile era ressaltar a beleza de cabelos que podem ser moldados como esculturas, não importando o fato de serem crespos. Sentimos que nossa intenção tenha sido interpretada de outra forma”.
Já o estilista afirmou que a intenção do desfile foi justamente a de criticar o racismo: “O meu desfile é uma crítica ao racismo e ao preconceito que respinga até os dias de hoje. Em nenhum momento falo em homenagem. Voltei para um tempo em que o futebol deixava de ser um esporte exclusivamente branco, de elite, para se ajoelhar diante da ginga, da dança que os negros emprestavam da capoeira pra driblar o time adversário. Tomei como objeto de pesquisa este esporte como formação de identidade, de costumes e da história brasileira. Procurei, como em outras coleções, fazer uma análise crítica e analítica sobre a influência e apropriação do futebol pelo brasileiro”.
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A gente sabe que Ronaldo Fraga é um pesquisador da cultura brasileira, da cultura popular e que conseguiu levar esse conhecimento para as roupas. A gente conhece o Marcos Costa, sabe que ele é um amor e que ama a beleza da mulher, sem distinção de cor. Mas é difícil não julgar infeliz a beleza criada para a passarela.
Eu tenho cabelo liso, mas me coloco no lugar da Natália, da Karine e de tanta gente: já pensou se colocassem modelos magras com enchimentos no corpo inteiro para fazer uma homenagem às gordinhas? Seria terrível ver aqueles corpos deformados tentando me representar. No mínimo, uma falta de respeito.
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E você, o que acha da beleza da coleção do Ronaldo Fraga? É sempre bom consumir moda, mas é melhor ainda quando ela traz questionamentos, e a gente pensa sobre ela. Opine!
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Não entendo o fato do bombril utilizado no desfile como um preconceito. Muito pelo contrário, aceito como elogio ou uma paródia. Se ofendeu aquele que nunca assumiu que um cabelo crespo pode ser bonito e se tortura utilizando “pasta azul”, pranchas e escovas progressivas…
Aqui ou nos EUA difícil quem assume um cabelo crespo e mesmo ondulado e se orgulha dele. Será que o preconceito não começa aí???
Naomi Campbell e´um exemplo, está careca por anos de mega hair
Será que se ele tivesse utilizado piaçava ao invés do Bom Bril alguém teria se ofendido???…. Pior que provavelmente sim…
Vamos lá gente! Assumam o cabelo “Bom Bril” e se orgulhem dele. Respeitem a si mesmo e se amem com são, para não se sentirem desrrespeitados por nada!
Nossa, perda de tempo e militância demais.
As pessoas estão pré-ofendidas com tudo.
Acho estranho isso no meio da moda que vivem lançando estéticas estranhas.
Menos Militância e mais criatividade…
gente, o ronaldo é um gênio e é claro que a ideia nao foi racista, pelo amor de deus, se alguem se sente ofendido com isso ta precisando de algumas (várias) seçoes de terapia.