Recentemente uma experiência ruim em um restaurante onde eu estive me fez relembrar um texto que escrevi em 2011, contudo infelizmente se encontra tão atual. Todos querem ser referência no mercado, mas a qualidade na prestação do serviço continua deixando a desejar.
Convido os empresários do setor a uma reflexão sobre seus negócios e como querem ser vistos perante os consumidores.
conceito
con.cei.to
sm (lat conceptu) 1 Aquilo que o espírito concebe ou entende; idéia; noção. 2 Expressão sintética. 3 Símbolo, síntese. 4 A mente, o entendimento, o juízo. 5 Reputação. 6 Consideração. 7 Opinião. 8 Dito engenhoso; máxima, sentença. 9 Conteúdo de uma proposição; moralidade de um conto. 10 Parte de uma charada em que se define a palavra inteira. 11 Sociol Termo que designa uma classe de fenômenos observados ou observáveis. 12 Lóg A idéia, enquanto abstrata e geral.
Nos dias atuais, a palavra conceito tem perdido seu real significado. Tudo o que se pretende um diferencial e um status virou “Conceito”. Lojas conceito, hospitais conceito, supermercados conceito e, finalmente, restaurantes conceito. E, despido de preconceito, deixei de lado meus preferidos e tenho visitado essas tais novas casas. Infelizmente tenho me decepcionado algumas vezes, bate um remorso pós-refeição, indignação, e para muitos já criei o meu conceito “AQUI NÃO PISO MAIS”.
Esqueceram de me avisar que muitas vezes o restaurante é conceito de arquitetura, decoração, paisagismo, preço, e não de sabor, atendimento, qualidade de matéria prima etc.
Há quinze dias estive em um famoso self-service daqui de Fortaleza, dito conceito, e por sinal estava cheio de clientes conceito (“gasto muito, como mal, mas tô na moda e na coluna social”) e precisei passar esse tempo digerindo pra não ser injusto e pesado nas palavras antes de escrever este post.
O ambiente do referido local é muito bem decorado, eles conhecem muito bem o conceito de frio, tanto é que, além do ar condicionado gélido, boa parte da comida também estava, pois, os réchauds não conseguem vencer a climatização do ambiente, sem falar da frieza dos atendentes.
As saladas estavam um caos, uma tina com alface rasgado, uma tentativa de caprese (tomate em rodelas, sem queijo e o molho pesto feito com coentro), uma de grão de bico que estava de quebrar o bico (faltou o conceito de cocção nesse caso). O que salvou foi um molhinho de maracujá que estava realmente muito bom.
Além do buffet de saladas ter poucas opções, muitas delas estavam com cara de resto, só as sobras no fundo das travessas e, na minha permanência no restaurante, somente uma delas foi reposta, e detalhe, não eram nem 13h ainda. Fico imaginando o que as pessoas que normalmente almoçam mais tarde encontraram no buffet a partir das 14h, acho que somente o conceito de salada, porque as saladas já estavam escassas bem antes disso.
Senti muita falta do conceito de cortes bem feitos, apresentação decente e, será que a quase 50 reais o quilo, seria exigir muito umas saladas melhor elaboradas no quesito ingrediente? Poderiam aparecer mais endívias, aspargos, radicchios, um tomate cereja pelo menos, um camarão (não precisa ser grande), um singelo gergelim ou uma linhaça misturada a um iogurte já mudaria meu conceito.
Agora o cúmulo foi o filé e o peixe. A carne estava cortada a favor das fibras, o que o transformou em solé (sola de filé), usaram o conceito da desconstrução do alimento, o molho foi feito com vinho de mesa suave, o que conferiu ao molho um delicioso sabor de suco de uva da merenda escolar. Olha o resgate do conceito de comfort food… HAHAHA.
Já o peixe, nada de mais, estava como qualquer empanado industrializado! Neste ponto quase atingiram o conceito de gastronomia molecular, transformando peixe em água porque só faltou ser incolor, pois, insípido e inodoro já estava. Com mais um pouco de pesquisa e trabalho quem sabe vocês chegam lá!
Nem arriscamos as sobremesas para evitar mais aborrecimentos. Pagamos a conta de 72 reais (muito dinheiro para a época, lembrando que estamos falando de 2011). Para duas pessoas isso fica classificado no conceito assalto, considerando a falta de qualidade no serviço.
Enfim, ser conceito não é só ser bonito e caro, estar na mídia ou na moda. Os modismos passam, mas muitos conceitos ficam. Portanto revejam seus conceitos, criem uma identidade e façam valer seus status de CONCEITO.
Onde apliquei o termo conceito, pode-se ler gourmet, o novo nome que o mercado aplica para o mesmo termo usado em 2011. Em tempos de crise, a pretensão de compra e a decisão de fazê-la fica mediante a uma avaliação maior do consumidor que exige mais benefícios em compensação ao seu investimento. Desta forma, as empresas precisam se reposicionar no mercado para que se mantenham vivas e investir principalmente em qualificação para uma melhor qualidade na prestação de serviços.
Beijos e até o nosso próximo encontro com a gastronomia temperada com algumas especiarias
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“clientes conceito (“gasto muito, como mal, mas tô na moda e na coluna social”)” amei isso.