Tá bonito de ver a movimentação das mulheres por mais visibilidade e reconhecimento. Hoje o assunto é cinema, e como é arrepiante ver o shade de Natalie Portman ao anunciar os indicados TODOS HOMENS ao Globo de Ouro de direção e o discurso de Frances McDormand no Oscar, convidando todas as mulheres que concorriam nas mais diversas categorias a ficar de pé, serem vistas e abordadas para falar de trabalho no after party da premiação.
Oscar e Globo de Ouro há muito tempo não valem nada pra mim como “cinéfila” ou criadora audiovisual, mas não dá pra fazer vista grossa para a falta de mulheres concorrendo e ganhando esses títulos tão tradicionais.
Vamos aos números?
Em 75 anos de Globo de Ouro:
- Apenas 6 mulheres foram indicadas ao prêmio de melhor direção
- Somente 1 mulher levou o prêmio, Barbra Streisand por Yentl (1984)
Em 90 anos de Oscar:
- Apenas 5 mulheres foram indicadas a melhor direção
- Somente 1 mulher venceu, Kathryn Bigelow por Guerra do Terror (2010)
(E se bem me lembro, falava-se mais sobre como ela estava concorrendo com o ex-marido James Cameron, à época com Avatar, e como ela venceu o ex-marido, mas muito pouco sobre os outros filmes que ela tinha feito, a carreira no cinema e a importância do filme naquele momento)
Uma pesquisa da Universidade do Sul da Califórnia analisou:
- De 1.100 filmes famosos produzidos entre 2007 e 2016
- Havia 1.223 diretores envolvidos
- Apenas 4% eram mulheres (mais ou menos 48)
Já a Universidade de San Diego e seu Centro de Estudos Sobre a Mulher na Televisão e no Cinema constatou em 2016 que:
- Entre os 250 filmes de maior sucesso do ano, apenas 17% de todos os diretores, roteiristas, produtores e editores eram mulheres
- Um terço desses filmes empregou apenas uma ou nenhuma mulher nessas funções
♥
Apesar de sempre ter sido jornalista de cultura e temas dito femininos e de amar uma boa história contada por mulheres, fiquei surpresa com os números tão baixos e ainda mais surpresa ao parar pra pensar em filmes dirigidos e/ou escritos por mulheres e ter certa dificuldade em chegar a uma lista.
Pensei em Sofia Coppola, em Greta Gerwig, em Diablo Cody, mas precisei da ajuda de outras listas pra conseguir montar a minha. Nessas listas, descobri inclusive que Cidade de Deus não foi dirigido só pelo Fernando Meirelles, mas também pela Kátia Lund – que não ganhou tanto destaque quanto seu parceiro, não foi mesmo?
Vamos à lista:
Tudo de Sofia Coppola
O maior nome feminino do cinema dos anos 2000, Sofia contou com uma ajuda do pai pra entrar no mercado, mas isso não tira o valor dela como diretora e roteirista. Dela eu indico principalmente Encontros e Desencontros, As Virgens Suicidas e Maria Antonieta.
Tudo de Greta Gerwig
Única mulher indicada ao Oscar de direção este ano, Greta é roteirista e atriz de filmes indie (ou com cara de indie) que eu adoro. Como diretora e roteirista, ela assina Lady Bird, mas ela já tinha me conquistado com Frances Ha, que co-escreveu com Noah Baumbach (o diretor). Baumbach trabalhou com Gerwig antes em Greenberg, dramédia bem legal com Ben Stiller fazendo um papel diferente pra variar.
Tudo de Diablo Cody
Vencedora do Oscar de melhor roteiro original (a categoria que ainda faz algum sentido pra mim) em 2008 por Juno, Diablo Cody é muito boa criando mulheres fortes e meio malucas. Logo depois ela lançou Garota Infernal, um terror bem legal que escreveu e dirigiu, confirmando o tino pras personagens marcantes com o seriado United States of Tara, criado por ela. Voltanto ao cinema, ela repetiu a parceria de Juno com o diretor Jason Reitman com o filme Young Adult, novamente assinando roteiro.
Filmes aleatórios dirigidos por mulheres que você vai gostar de assistir:
Pequena Miss Sunshine (2006), de Valerie Faris e Jonathan Dayton
Olive, uma garotinha que mais parece a Mônica (baixinha, gorducha, dentuça e de óculos de grau) quer participar de um concurso de beleza. A família inteira entra numa kombi pra viajar e fazer o sonho dela se tornar realidade.
“O Babadook” (2014), de Jennifer Kent
Estreia da cineasta australiana, O Babadook é uma história de terror superdiferente, lúdica e poética. Vale muito a pena ver.
“Frida” (2002), de Julie Taymor
Aclamada e premiada diretora de teatro, dirigiu a cinebiografia de Frida Kahlo. Apesar de mostrar uma personagem real feminista, comunista e dona do próprio nariz, o filme teve nos bastidores acusações de assédio moral pelo produtor Harvey Weinstein (acusado por várias mulheres de dentro e fora do showbusiness, incluindo Salma Hayek e Uma Thurman, de abuso sexual e até estupro).
“As Patricinhas de Beverly Hills” (1995), de Amy Heckerling
Se você não viu, veja, porque é muito divertido. =)
“Quanto Mais Idiota Melhor” (1992), de Penelope Spheeris
Fiquei surpresa com esse nome! Adoro o filme, mas sempre achei meio comédia de homem hétero e branco (nada contra, até sou casada com um!). Penelope também escreveu e dirigiu Os Batutinhas <3
“Mamma Mia” (2008), de Phyllida Lloyd com roteiro de Catherine Johnson
A história de uma mulher forte que cria a filha sozinha e, na verdade, nem sabe quem é o pai dela – porque não tem problema nenhum quebrar as regras sociais e fazer o que se tem vontade. Ah! É um musical incrível com canções do Abba, que eu sou fã!
“Across The Universe” (2007), de Julie Taymor
Músicas dos Beatles em versões moderninhas embalam o romance de uma garota americana e um artista de Liverpool.
“Frozen – Uma Aventura Congelante” (2013), de Chris Buck e Jennifer Lee
Demorei, mas finalmente assisti ao tão comentado Frozen e me rendi completamente. A história das irmãs Elsa e Anna veio para quebrar os estereótipos dos contos de fadas, do príncipe que salva a princesa indefesa e das personagens planas e sem graça. Na Netflix tem ainda uns spin-offs, e AMEI o LEGO Frozen – Luzes Congelantes, com a Anna dizendo pro Kristoff parar de fazer mansplain. Bem feminista sim! <3
“The Runaways” (2010), de Floria Sigismondi
Biografia da banda de rock The Runaways, toda formada por meninas adolescentes que tocavam pouco e ruim, mas eram incríveis.
“Persépolis” (2007), de Marjane Satrapi e Vincent Parannaud
Adaptação da graphic novel homônima, escrita por Marjane Satrapi. Quase que uma biografia da própria Marji, Persépolis conta sobre a vida de uma mulher nascida no Irã e que viu o país se fechar completamente e mergulhar numa época sombria de fanatismo religioso e conservadorismo (processo que parece estar acontecendo agora mesmo no Brasil). A dupla também adaptou para o cinema o quadrinho Frango Com Ameixas, em 2011.
“Bicho de Sete Cabeças” (2000), de Lais Bodanzky
Rodrigo Santoro é Neto, um adolescente de classe média que é internado num hospital psiquiátrico pelo pai, depois de encontrar drogas com ele. Incrível.
“Tiny Furniture” (2010), de Lena Dunham
Escrito e dirigido por Lena Dunham, criadora de Girls, o filme conta a história de Aura, 22 anos, saber o que fazer do futuro e em busca da própria identidade.
“Agora e Sempre” (1995), de Lesli Linka Glatter
Amigas de infância se reencontram 25 anos depois e relembram histórias das férias de verão de 1970, quando tinham apenas 12 anos de idade e viveram as primeiras emoções do início da adolescência.
“Que Horas Ela Volta?” (2015), de Anna Muylaert
A pernambucana Val se mudou para São Paulo para proporcionar melhores condições para a filha, Jéssica. Anos depois, a garota lhe telefona, dizendo que quer ir para a cidade prestar vestibular. Os chefes de Val recebem a menina de braços abertos, porém o seu comportamento complica as relações na casa.
Tem mais filmes imperdíveis dirigidos e/ou escritos por mulheres? Manda pra gente! Vamos construir uma lista colaborativa e trocar recomendações!
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